quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Pela ausência do sol

Às vezes há quem agradeça
Pela ausência do sol
Quando o dia começa
Apesar dos segundos mortos

Tudo vai ficando pior
Até que se reconheça
A firmeza do nó
Da gravata, da forca na garganta

Em cada cabeça
Que cairá igual a dominó
Quando a vergonha for descoberta
Num peteleco ou sopro

O orgulho será maior
Do que a consciência
De quem se enganou
E ainda se engana?

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

A dor em mim

Só quero dormir
Para domar
A dor em mim
De todo mar
Quiçá enfim
Possa acordar
E me sacudir
Sem me deixar
Nem desistir
Do que dança no ar
Do que isso diz
Quando o sonho se dá.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

O que me habita e invade

Entre a realidade
E a fantasia
Às três e meia da tarde
Cheia e vazia
De futuristas saudades
Vou escrevendo o que me habita
E invade
Quem proto-agoniza
De caneta, no teclado, a lápis
Em sopa de letrinhas
Saboreia e sabe
Que não é sopa engoli-las
Tanto na amarga verdade
Quanto na doce mentira.

sábado, 8 de dezembro de 2018

Dentro do peito

Siga o que pulsa
Dentro do peito
Não há bússola
Com norte mais magnético
Esteja na agulha
Imantada direto
Ao que lhe impulsa
Daquele jeito
Que não se recusa
Apesar do receio
Cerrando a sua cuca
É o seu maior crédito.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Fomes e quitutes

Tudo se manifesta
Na plena quietude
Da cabeça aberta
Entre fomes e quitutes
Eu só queria ir embora
Não era uma questão pessoal
Não obedeci àquela hora
Em que pus menos açúcar do que sal
Nada se esconde
No meio do silêncio
Nem a palavra por onde
Passeia o pensamento.

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

O rito aguenta

O rito aguenta
A reta adianta
A rota é nojenta
O arroto é da janta
Que nunca houve

A tarraqueta é plena
A torrada é uma planta
A rataria reina
A Terra é plana
A quem não vê e nem ouve.

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Com poesia talvez

Ainda bem
Que não me sinto bem
Que bom
Que me ponho no lugar de outrem

Empatia
Apesar de tanta apatia
E antipatia
Não há maciez
Em nenhum dia
De qualquer mês
Como vou adiante?
Com poesia talvez

Eu vejo tanques
E gritos estanques
São tempos infames
Os mesmos de antes.

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Pela natureza dos animais

Você sabe para onde direciona
A sua antena na captação dos sinais?
As instituições não funcionam
E alegam que os dias andam normais
A culpa é sempre da azeitona
Nunca é porque se bebe demais
As pessoas se detonam
Com as lavagens cerebrais
Pensam que estão livres mas se aprisionam
No WhatsApp dos jornais
Com editorias isentas da realidade medonha
Que se avizinha cada vez mais
Desprovida de liberdade e Amazônia
Apenas lobotomia em doses letais
Se você concorda com Madonna
Com Roger Waters e com as dicas papais
Se você ainda vive ao que sonha
Pela natureza dos animais
Poderá votar no domingo contra
As propostas de barbárie atuais
Desta figura agônica
Que deveria estar num desses psiquiátricos hospitais.

sábado, 13 de outubro de 2018

Para os canalhas, canalhas, canalhas

Quando penso
Com calma
Sobre ter calma
Nestes tempos

Sem amor nem alma
Fico bem tenso
Com suor nas palmas
Sem o xis no mapa

Do país que perdemos
Para os canalhas,
Canalhas, canalhas
Desde mil e quinhentos

Confundo a calma
Com a total falta
De conhecimento
Do que está acontecendo

Não é fábula
Mas uma tocaia
Que não caia no esquecimento
Da sombra da fábrica

Nas ondas da praia
Quem se diz isento
É tão sanguinolento
Quanto os crápulas

Que quebram a placa
Que matam à faca
Que metem a porrada
Que cospem na cara

Notícias falsas
Com fundamento
No ressentimento
No ódio, na raiva.

Vou-me embora pra Pasárgada
Eu vou para Maracangalha
Eu vou com o documento
Carimbado de esperança até na mala.

Antes fosse

Estou com pena
Antes fosse só
Aquela para desenhar letras
Que já sei de cor
Agora são coisas obsoletas
Vazias e sozinhas
Estou com medo
Quem me dera
Se fosse o mesmo
Receio na época
Em que passei a andar de bicicleta
Sem as rodinhas.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Jane

Vinte e cinco de setembro
É aniversário de um monumento
De quem me conhece há mais tempo
Até mais do que eu mesmo
Mulher de fibra
Do signo de Libra
Da faculdade de Letras
São suas obras completas
Uma fotógrafa enfermeira
E um radioperador poeta
Na hora da pose, eu não gosto
Mas sou-lhe grato pelas fotos
Ela é professora
Embora possa ser vereadora
Inclusive no Paraguai
É reconhecida por estudantes
É a esposa do meu sortudo pai
E me ajuda a não entrar em pane
Meu coração fica tranquilo
Por ser o filho
Da jovem Dona Jane.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Até

Até um sabonete
Tem uma opinião
Que pode ser sujeira
Até uma parede
Possui audição
Na discussão ligeira
Até um tapete
Faz parte da aviação
Nesta viagem passageira
Até uma marionete
Consegue emancipação
Com as xepas da feira
Até um alfinete
Pensa que tem condição
De sair da areia
Até um bilhete
Carrega uma revelação
Desde que se leia.

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Vários e raros

Vários dos meus amigos de infância
Ficaram apenas na lembrança
Não fazem mais parte
Do meu círculo de amizades
Porque prezam
As coisas que pesam
Nas costas do povo
Não sei se mudei muito ou pouco
Sei que não continuo idêntico
Ao que era no século passado
O que posso dizer neste momento
É que eles estão no lado
Errado da história
E não é uma conclusão ilusória
Agora guardo raros amigos de então
Sem reparos no meu coração.

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Raphael Magno Moreira Morsch

Raphael Magno
Moreira Morsch
É meu primo mas é de fato
Meu irmão, meu bróder
Ele é o culpado
Das minhas peripécias precoces
Nos versos rimados
E irmanados em estrofes
Hoje é seu aniversário
Idade? Trinta e nove
Neste louco itinerário
Desde setenta e nove
Nasci antes do homenageado
Mas sou bem mais jovem
Do que o virginiano focado
No que lhe move e comove
Se fez La Villa Strangiato
Em Itaboraí, ele pode
Alçar voos mais altos
Do que um Concorde
E tocar no volume máximo
Aquele velho rock
Na rua do fogo nada fátuo
Ou em Barcelona que o acolhe
É um prestígio inimaginável
É uma honra enorme
Ser prirmão de Raphael Magno
Moreira Morsch.

domingo, 19 de agosto de 2018

A borboleta

Azul, a borboleta
Pousou na telha
E passou esta letra.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Raptos de poetas

São tempos ásperos
São tempos caretas
Sem demora ao asco
Onde moram os picaretas
São dias trágicos
São dias de tretas
Rápidos no estrago
Raptos de poetas
São noites árduas
São noites obsoletas
Repletas de máscaras
Sem alma, sem Aretha.

Do pesadelo hardcore

Somos todos iguais
Nesta noite
Longa demais
Há quem não acorde
E nem se acuda
Do pesadelo hardcore
Expressão carrancuda
Nos corredores
Da rádio muda
Dias melhores
Com amor, isonomia e paz
Romperão esta enorme noite.

domingo, 12 de agosto de 2018

Previsão do tempo: nevermind

Não há quem nade
Na piscina vazia
Quem vive na night
Morre afogado de dia
Pratico apneia
Continuo aéreo e submerso
Dinheiro é uma ideia
Menos cara do que o verso
E quando soltar
No ar a palavra
Que nem o peixe no mar
Verão que nada.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

A saudade joga no meu time

A cidade define
Embora não determine
Como a humanidade definha
Compaixão agora é crime
A saudade joga no meu time
O tempo talvez atualize
O que antigamente não tinha
Acerta quem chama de crise
Parece que é o mesmo filme
Novos ingredientes no drink
Aquela dose pode ser minha
Aquela pose é puro script
De volta aos loucos anos vinte
Sou poeta: nem alegre, nem triste
Sendo o que menos se adivinha
Antes que eu me critique.

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Caminho em ziguezague

Caminho em ziguezague
Para não pisar nas folhas
Espalhadas na calçada larga
Para que não apoquente
A placidez hipnótica
Da manhã vermelha
Cabeças de bagre
Especialistas em qualquer coisa
Simplesmente escarram palavras
Incoerentes mas condizentes
E robóticas à óptica
De quem senta à cabeceira da mesa.

sábado, 28 de julho de 2018

Empresto tensão

Empresto tensão
A quem tem tédio
De tanta calma
Prezo a extensão
Dos remédios
Aos males da alma
Prego intenção
Nos complexos prédios
De pomposas jaulas
Presto atenção
Na falta de martelo:
Guitarra, voz e palmas.

terça-feira, 24 de julho de 2018

Não quero ver o eclipse da luta

Não quero ver o eclipse da luta
Mazelas de décadas atrás
Voltaram a ser atuais
Saudades dos clips na lupa
Das tardes lentas e longe demais
Sobra agora este velho rapaz
Onde estão os hippies? Na lua?
Ou viraram cobiçosos industriais
Virando as costas ao amor e à paz?

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Pinturas e recados

A borra acharia
A nata
Se houvesse xícara
A todas as camadas
Da cafeteria
Da borracharia
À beira da estrada
Talvez não dê
Em nada
A minha utopia
Tão démodé
Que vira vanguarda
A depender da editoria
E sobretudo do que se lê
No meio da correria
Durante o atual holocausto
Brasas profundamente rasas
Realizam o rescaldo
Parece que foi evacuada a área
Mas sobram pinturas e recados
Nas paredes queimadas da casa
Nas marcas de pneu no asfalto
Nas gargantas silenciadas
Por quem fala mais alto.

domingo, 15 de julho de 2018

Águas vivas

Águas vivas suspensas
No ar sem asas
No palco do teatro
Espetáculo calmo e abufelado
Quando se pensa
Em quase nada
Passando pela fumaça densa
Da madrugada
Beijando a manhã
Vivendo cada
Dia como se não houvesse amanhã
Navegando em águas
Tão tranquilas
Quanto agitadas
A caravela segue sua trilha.

terça-feira, 10 de julho de 2018

Comemos, dóceis

Comemos,
Dóceis,
Venenos
Como se fossem
Alimentos
Não é de hoje
Que somos pessoas
Obedientes
Engolindo sapos e peçonhas
Escovando os dentes
Pagando salgado
Por quem teleguia
Através dos noticiários
O prato do dia
Cujo tempero
É feito de pânico,
Ficção e desespero:
Porra, somos orgânicos!

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Quem cala declara

Quem cala
A verdade
Declara que é louca
Quem capa
A realidade
Alega que é pouca
Quem encara
A taciturnidade
Sabe que é rouca
Quem acama
Com a divindade
Segreda que é mouca
Quem acata
Com a crueldade
Está marcando touca
Quem acaba
Com a felicidade
Só fala de boca.

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Esqueletos afinados

Enquanto a televisão
Tenta ensinar como se canta
Pelas teclas,
A lápis,
Na garganta
Ou à caneta
Relato a aniquilação
Do oceano
Das plantas,
Do ser humano
E dos demais animais
Do planeta.

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Quem é vivo sempre perece

Quem é vivo
Sempre perece
Quem é morto
Apenas parece
Que respira
Quem não é vívido
Não aparece
No ar o tempo todo
Quem não é insosso
Com as mãos em prece
Sai da zona de conforto
Em caso oposto, pira.

terça-feira, 12 de junho de 2018

Das almas nucleares

Eu não entro em acordo
Só no sonho
Das almas nucleares
Enquanto os corpos
Carregam confissão e confusão
Aos lugares
Eu espero o calor todo
Da fissão e da fusão
Dos núcleos atônitos
Não fico neutro à energia
Contra a letargia.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Por motivo de fossa maior

Por motivo de fossa maior
Eu não vejo o sol
Muito menos amor
Entre as pessoas
Ao meu redor
Somos coisas
Por motivo de bossa, melhor
É seguir só
Com uma cota de humor
Mesmo que corroa
A ponte Rio-Niterói
Aponto nós como forças.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Marcos

Lufada de vento
Virando a folha
Onde se agenda o tempo
Onde se anota
Para que não escoem as coisas
Pelo ralo do esquecimento
Na infância eram mais lentos
Os dias em que brincávamos juntos
Fazendo gol nos muros
Eu gostava dos estudos
Quando não tinha que decorar luto
Raiva, dor e lamento
Agora eu aprendo
Um pouco de tudo
Os beijos e abraços extensos
Dados ao meu primo do Barreto
Como se fossem os últimos
Acabaram sendo, muito cedo.

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Que o tempo deu

Quase todos os meus
Amigos de infância
Seguem na distância
Que o tempo deu
Entre o que sou
E o que se tornaram:
Vencedores, nos apogeus
Do egoísmo e da ganância
Amizades em vacância
Coleguismo no breu
Onde não bateu o sol
Só a realidade na minha cara.

domingo, 20 de maio de 2018

Revolução ruça

A revolução será ruça
A revolução será na raça
Antes que a vaca tussa
O leite da vitória na taça
A revolução será expulsa
Dos grilhões às praças
Do Brasil à Prússia
A revolução será esparsa
E que reúna
Rebeldes e reaças
Milicos e comunas
Elites e massas.

Tudo depende

Tudo depende
De vir de repente
Um happy end

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Eu preciso de fotos

Eu preciso de fotos
Que me auxiliem a lembrar
Do passado remoto
Das pessoas
Do lugar
E das coisas
Que, de cabeça, não rememoro
Caso eu não me recorde
A imaginação me acode
Na criação das lembranças
Que o esquecimento não alcança
Se a correria cotidiana
Elimina tais memórias
Os retratos as elaboram.

terça-feira, 15 de maio de 2018

Aquele velho

Faltam vinte e seis
Dias
Para os meus trinta e nove
Anos
Eu sei, é no próximo mês...
Não sabia
Que sou de setenta e nove?
Tanto
É que sempre espero a vez
Minha
De tocar aquele velho rock
Stoniano
Para tocar os meus pés
Na escorregadia
Parede, não chove
No entanto.

sábado, 5 de maio de 2018

À dura realidade

É um longo caminho
Parece procissão
Retorno de feriado
À dura realidade
Ontem foi o vizinho
E hoje será mais um irmão
Abandonado
À própria sorte que não cabe
Longe do ninho
No meio da confusão
Do tiroteio diário
Seguem o sangue e o baile.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Entreveros

Entreveros
E falsos desesperos
Faço do adoçante
Colírio diante
Da cólera nestes dias amargos
Por um olhar mais adocicado
Tenho medo também
Dos amigos de mil novecentos e aquém
Que viraram cidadãos de bem.

segunda-feira, 30 de abril de 2018

Da dama da noite

Quero andar sempre
Com aquilo que me trouxe
Ao suspiro doce
Da dama da noite
Não era ventre
Onde eu estava
Talvez uma palavra
Uma saliva que salva
Para que eu entre
Novamente onde estive
Preciso ficar livre
E voltar aonde se vive.

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Teletransportes

esportes
bandeiras
hinos
passaportes
fronteiras
destinos
feriados nacionais
santos padroeiros
histórias oficiais
e dos jornaleiros
teletransportes
ribanceiras
ensinos
quintos dias
úteis dos meses
folgas das agonias
bem às vezes.

sábado, 21 de abril de 2018

Da cidade, do hospício

Pulando corda
No gelo fino
Jogando bola
Perto do abismo
Pegando onda
Na praia dos vizinhos
Brincando de amarelinha
No campo minado
Passando a língua
No fio da navalha
Perambulando na rua
Em plena madrugada
Esconde-esconde
Nas trevas da atualidade em casa

Respirando o gás típico
Da cidade, do hospício
Sorvendo o ar enjoativo
Da piscina, da perfumaria.

Andando de condução
Na Avenida Brasil
Assistindo às notícias
Na hora da refeição
Discutindo sobre política
Na Páscoa e no Natal
Revendo amigos de outrora
No churrasco marcado via WhatsApp
Arrotando vitórias
Na corrida do ouro
Bebendo no bar da esquina
A qualquer momento da vida
Repetindo discursos
Das grandes mídias

Respirando o gás típico
Da cidade, do hospício
Sorvendo o ar enjoativo
Da piscina, da perfumaria.

Falando apenas do tempo
Com as pessoas no elevador
Conversando sobre futebol
Com o porteiro e zelador
Atuando em família
Sob as regras da hierarquia
Defendendo de forma canina
A porta de entrada
Agindo como personagem
De uma novela censurada
Enxergando paisagem
Em vez de mendigos
Flertando com o perigo
Pelo livramento do tédio

Respirando o gás típico
Da cidade, do hospício
Sorvendo o ar enjoativo
Da piscina, da perfumaria.

terça-feira, 17 de abril de 2018

Porque quis

Eu não a deixei pra trás
Você não foi comigo
Porque quis
E o tempo sempre traz
Tempestade e abrigo
Antena e raiz
Guerra e paz
Afinal somos amigos
E do mesmo país.

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Os meus sonhos

Aos bocejos
Os meus sonhos
Acordaram cheios
De medos estranhos
E velhos desejos
Resolvendo sonhar comigo
Deles sou o melhor amigo
E o pior inimigo
Eis onde dormem o perigo
E o alívio que espreguiço.

sábado, 7 de abril de 2018

Identidades

sou esquerdopata
sou petralha
sou Rubens Paiva
sou da África
sou Carlos Lamarca
sou da senzala
sou Amarildo
sou Betinho
sou Nelson Rodrigues Filho
sou índio
sou do Brasil
sou Jorge Amado
sou Olga Benário
sou operário
sou humano
sou Graciliano Ramos
sou Marielle Franco
sou Raquel de Queiroz
sou Vladimir Herzog
sou Stuart Angel
sou Gandhi
sou militante
sou Ulysses Guimarães
sou Castro Alves
sou Chico Buarque
sou Bob Marley
sou Martin Luther King
sou Eduardo Suplicy
sou Darcy Ribeiro
sou quilombola
sou Leonel Brizola
sou Chico Mendes
sou da Venezuela
sou Tiradentes
sou Marighella 
sou da favela
sou trabalhador
sou Nelson Mandela
sou do amor
sou mortadela
sou Nise da Silveira
sou da resistência
sou você
sou negro
sou LGBT
sou Freixo
sou Pablo Neruda
sou de Cuba
sou da luta
sou Lula.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Do lado certo

Apesar da morte
Da democracia
Os créditos
Dos telejornais de falsas notícias
Não sobem quietos
Como quando alguém importante morre
Apesar da violência mais perto
E do seletivo holofote
Saber que estou do lado certo
Da História me mantém forte.

quarta-feira, 28 de março de 2018

É preciso falar

É preciso falar sobre política
Qual é a sua ideologia?
É preciso falar no seio da família
Alienadamente feliz na apatia
Apenas o diálogo edifica
Não pode existir o tijolo da tirania
Há tempos que não como margarina
Há quantos amigos e parentes fascistas?

terça-feira, 27 de março de 2018

Jorge

Vascaíno
Mas é fã mesmo de automobilismo
De Led Zeppelin
Questão de pele
E de sangue
Bom e outros dons
Filho de São Gonçalo, de nordestinos
Faz caipirinha, churrasquinho
E uma feijoada
Achocolatadamente carregada
Caçador no mangue
De carros e sons
Do signo de Áries
Quebra-galho e arquiteto dos lares
Ouve o repertório de Big Boy
De um tempo que não foi
Ao tocar de novo, garante
O filho feliz do aniversariante.

domingo, 25 de março de 2018

A depender da linha

Toda vez que me ducho
Eu escuto
Um grito obscuro
De gol
Ou de dor
A depender da linha
Do Equador
Ou do editor
Do jornal de ladainha
Com aquele discurso
E o mesmo susto
Que tenho quando
Eu me banho
Sem condicionador.

quinta-feira, 15 de março de 2018

O enxofre

O enxofre exala o cheiro
Cada vez mais dentro
Dos meus direitos:
Estou indefeso.
Se atenção eu presto
Nestes dias funestos
De algo estou certo:
Tenho medo.

domingo, 11 de março de 2018

Serventia

A porta da Lua
É a serventia da asa
Então, caso se inclua
Na nave
Na casa
É a chave
Que abre a casca
Rumo à polpa,
À massa da fruta
Maçã ou de qualquer outra
Não se poupe,
Voe,
Chegará além da sua
Escolha
A polpa da fruta
É a serventia da casca.

terça-feira, 6 de março de 2018

Cor e ruído

Mais políticos
Do que românticos
Meus escritos
Nestes últimos anos
Mundo esquisito
Ambiente estranho
Famosamente esquecido
Corroído sem estanho
Tudo é cor e ruído
Até para os cegos
Que tapam os ouvidos
Que se exploda o ego
Nada será erguido
Ao longo deste século
Além de conflitos
Todos erradamente certos.

Tônia Carrero

Viva
Tônia Carrero!
Diva
Do teatro brasileiro

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Músicas antigas

Eu gosto de músicas antigas
Porque soaram assim as minhas
Primeiras alegrias.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Tudo em clima

Depois da chuva autoritária
Insurge um anarco-íris
Na estação cosmoviária.

Deitados, na horizontal

Mídia golpista
Solicita
O envio de vídeos
Deitados,
Na horizontal
Com um cartão postal
No background
E somente exibe os
De indivíduos
Napeiros e despidos
De horizonte social
Que Brasil você quer para a fatura?
Que Brasil você quer para o furdunço?
Que futuro você quer para o Brasil?
Que futuro?
Que Brasil?

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Da sua presença

Toda vez que bebo Mineirinho
Que vejo injeção
Que como presunto
Que mastigo miolo de pão
Que ouço o dia em que a terra parou
Do Raul Seixas
Sinto o sabor
Da sua presença
Vibrando com o título nacional
De mil novecentos e oitenta e quatro,
Romerito, Assis, Washington
Paulo Victor no gol
Notei que já corria na minha veia
O sangue tricolor
Jogava futebol no quintal
Maracanã da Mululo da Veiga
Com o meu avô
Observava quieto seu ritual
De formular as receitas
Espirituais e farmacêuticas
De acender as velas
De dar o seu alô
Para que tudo se acalme
Eu te amo, vovô Jayme.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Slogan patriótico

Brasil:
Mame-o
Ou queixe-o.

domingo, 28 de janeiro de 2018

Caça às brumas

Caça às brumas
Pelo breu
Lírico assim nas trevas
Como no céu
Membro da turma
Presente em mim
Uma vez que nada se leva
Desta vida no fim.

sábado, 27 de janeiro de 2018

O trem não fumega

Os galhos das árvores
As veias
Os rios
Conexão cósmica
Gentilezas, favores
Épocas de secas, de cheias
Profundos vazios
Na estação mais próxima
O trem não fumega
Há muito tempo
Assim como a panela
Agora muda
Cortinas de fumaça
E de entretenimento
Balas amargas
Agora chupa.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Trauma do negócio

Eu sempre desconfio
Da reputação ilibada
Do conhecimento notório
Da idoneidade moral
Talvez não sirva para nada
O pop engana
É o trauma do negócio
Mercado de terno e marginal
Governo pornochanchada
Obscenas façanhas
Telespectador beócio
Fantoche de telejornal
Cultivo por anos a fio
Imaginação calibrada
Discernimento aleatório
Identidade autoral.

domingo, 14 de janeiro de 2018

Qualquer registro

Seja manuscrito
Ou gravação de ruído
É preciso qualquer registro
Para não ficar nesta dança
Pisando no pé da lembrança
Apesar de conhecer desde criança
Esta canção
Que não me cansa
Descartarei razão
Que for rasa
As cores do brasão
Não estão na brasa
A quem quiser estar por cima
Com as melhores asas
Do ramo e da rima
Um conto de reis
Sem desconto de fantasia
E nada do que se fez
Nesta poesia
É parecido com vocês
Ontem, noutro dia,
No meu horizonte em vozes.

sábado, 13 de janeiro de 2018

Atração da inveja

Pode ter a atração da inveja
Como efeito colateral,
Mas não passem tanto mal
Assim com ela

Afinal de contas,
As únicas pessoas
Que não são invejadas
São as prosaicas.

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Quando eu não mais me recordar

Quando eu não mais me recordar
De coisa nenhuma
Os meus versos vão me acordar
Durante a leitura
Entre o toque e o espectro
Quando eu não concordar
Nem mais com a minha cuca
Meus pensamentos vão decorar
As grades da prisão com plumas
Caso falte teleférico
Quando eu não tiver mais memória
De mim na pintura
Em curso conhecida como agora
Minhas poesias, vestidas e nuas,
Seguirão assinando: Tchello Melo.