terça-feira, 30 de julho de 2013

Assim como o tempo

Eu fui adolescente
Na década de noventa
A internet era incipiente
Discada e bem lenta

Eu fui criança
Nos anos oitenta
Os dias não tinham ânsia
Tampouco tormenta.

Agora sou um jovem senhor
Da década de dez
Assim como o tempo, sou
Todos que fui sempre e através.


quarta-feira, 24 de julho de 2013

O sussurro etéreo

No corredor do vento frio
Na cozinha
A geladeira é um outdoor íntimo
E não é só a minha

Passeando pela tempestade
Eu não ligo
E me plugo na eletricidade
Para o meu abrigo

O sussurro etéreo
Tem dado o recado
Razão e ração para o mistério

Às vezes o rádio
Não está em mono nem em estéreo
Mas rasga o ar como um raio.


Mais do que um teste

O céu é um chuveiro aberto
O guarda-chuva
Embora desperto e perto feito teto
Nunca enxuga

E já que cai água da ducha
Celeste, mais do que um teste,
É uma prova que não se refuta
De que rola uma colossal tristésse.


sábado, 20 de julho de 2013

Pros verbos

Jogo a rede
Para colher malucos
Pensamentos no ar
As melhores reticências
Estão nos menores fiascos
Atravesso o sorriso
Onde é mais largo
À noite, todos os cigarros
São claros
Cada coringa
No seu baralho
Cada cabeça
Uma centelha
Mão que é ladra
Não dorme
Bagatela nunca é demais
Educando a esperança
Não será preciso punir a fome
Divagar se vai aonde?
Dize-me com o que andas
E te direi que são os teus pés
Em terra de ego
Quem olha pro outro eu não sei
Mais vale um passado na escuridão
Do que fantasmas voando
Não adianta chorar
Sobre o sorvete derretido.



quinta-feira, 18 de julho de 2013

Na saída para a estrada


Na saída para a estrada
Havia uma boiada
Após a volta dada
Que foi bem rápida
Diga-se de passagem
Não tinha mais nada
Nem manada
Para justificar a miragem.

Nem sempre tem olho mágico na porta

Ao meu lado
Passa uma borboleta
Às vezes sou alado
Noutras bola de roleta
Façam suas apostas
Nem sempre tem olho mágico na porta

A barba era lenta
E sinônimo de maioridade
Na adolescência
Agora cresce numa incômoda velocidade
No pescoço é onde mais coça
E não é a corda.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Presentes presentes

Os presentes
Do pretérito jazem
Presentes
E trazem
Um cheiro de naftalina
Ou de ceia natalina.

Os pombos
Já se foram
Os escombros
Não só me edificam como me decoram
Eu me movo pelos ombros
E isso não é de agora.



sexta-feira, 12 de julho de 2013

Desta tropa de escroques

O caos é tão real
Quanto as fraldas e fardas
De uma trepa de choque

A realidade é tão caótica
Quanto as almas e armas
Desta tropa de escroques

O povo é mais palpável
Do que a pátria
Portanto se toquem.


quinta-feira, 11 de julho de 2013

Quando a ideia sangra

A faca anda
Tão afiada
Que corta
Até pensamentos

E não pensar adianta?
Ou refletir sobre nada
É o que mais importa
Como raciocínio sob racionamento?

Quando a ideia sangra
Tão vermelha quanto a alvorada
Pego o papel na hora
E aproveito a tinta escorrendo.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Prenso, logo é disco

Prenso, logo é disco
O som se vê
Quando se encorpa

Venço quando existo
E começando a ser
Imagino na cópula

Denso, logo é lido
E para quem não lê
Recomendo escola.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Tampouco utopia

Direito não é regalia
Tampouco utopia
Se a distribuição de renda
Acontecesse como oferenda
A justiça
A saúde
A dramaturgia
As músicas
Os esportes
Os livros
Os teletransportes
Estariam em todos os rincões
Em vez de só para os ricões.

Cada adjetivo é um rótulo


Os óculos escuros
Não são vendas
Nem teriam vindo do futuro

Os óculos negros
Não tapam o que vejo
Nem me fazem topar na tenda

Os óculos afrodescendentes
Entendem que cada adjetivo é um rótulo
E eu me entedio às vezes com este negócio.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Sol invernal

O sol de junho a setembro
No hemisfério sul
É invernal:
Também queima

Ósculos escuros
Não sabem blindar
Tanto quanto
O filtro solar

Meus caros,
Não confundam
Alhos
Com agasalhos.


Notas?

Sempre obtive notas altas
Da classe escolar
Exceto das mais abastadas

As notas não eram verdes nem monetárias
Mas em forma de números ou de conceitos
Atualmente são literárias

E os colegas que recebiam as minhas colas
Sequer me olham agora:
Confundo derrotas com vitórias

Possuo experiência comprovada
Em desemprego
E no aguardo de empregos

A vida dá suas marteladas
Sou parede, quadro, prego
E Marcello.

Através da espera e do silêncio

Acometido pelo tédio
Tento entender o mistério
Deste mundo tétrico

Enquanto não entendo
Reconheço que tudo tem seu tempo
Até o contratempo

Não sei se chegou o inverno
Ou o inferno ao passo que hiberno
O que sinto é mais do que térmico

Enquanto não me rendo
Resigno-me através da espera e do silêncio
Ciente de que algo está acontecendo.