terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Haikai natalino.

Só o dia de Natal
Para tornar a terça em fera
Domada e dominical.

As frutas

Enquanto se devoram
As frutas ignoram
Que vão embora.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Vermes e anjos


Esqueça a guerra
Largue as armas
Por uma nesga de trégua
Aja como fala
Haja o que ouvir
Hoje é o porvir

Dê à terra
Enquanto há alma
Suas palavras de poeta
E as lavas do seu ego
Os vermes esperam
Que nem os anjos, sempre aéreos.


domingo, 23 de dezembro de 2012

O cheiro da carne assada


O cheiro da carne assada
Serpenteia pela casa
E a fome anseia ser logo passada.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O fim de um mundo


Aprecio o fim de um mundo
No meu refúgio
A extinção de uma mentalidade
Ainda que seja tarde
E o céu anuncia que vem água
Para aliviar a alma
Enquanto minha namorada
E minha irmã em disparada
Vão à manicure
Não desejo que este mundo perdure
Igual a um pesadelo requentado
Talvez acabe que nem uma brincadeira
Quando parar de pôr a lata de achocolatado
Em pó na geladeira.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Boas entradas e saídas.


Caso não agrade
Agride

Há grandes grades
Graves

E o que divide
As fechaduras difíceis
Das chaves

É se tornar livre.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Quando as estrelas dão espaço


Prefiro ver as nuvens
Quando as estrelas dão espaço
Para os comerciais

Meus olhos passeiam salubres
No azul me distraio
Apesar dos sinais

Meu estilo é nenhum
Minhas canções são uns fracassos
Minha ideologia não me faz

Mártir de algum queixume
De um movimento recatado
Até um dia que possa dançar.

Nada perto


Meu medo é nada perto
Do osso que roo
Do nó que torço
Do voo que alço
Do zoológico todo
Onde eu, tolo ou não, espero
Com os sonhos descalços
Em vez de sapatos
Na zona de conforto
Antes um dente torto
Do que um sorriso amarelo.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Pela vida que se decanta


Passando mais um ano pesado
Planos levianos são pisados
Pela máquina no pomar
Aparando a grama
Esperando granular
Pirando pela grana
Pela garapa
Pela cana
Pela cara a tapa
Pela vida que se decanta
Perdida no mapa
Achada em chamas.

Enquanto agora não passa


Não sei quase nada
Acerca do que me cerca
Só em dezembro se come rabanada
E sofre de tédio o ano inteiro a pedra
Na sua mudez de madrugada
Na calmaria que enerva
No desenho das águas
Na espuma da cerva
E nas ondas do que se traga
Meu momento se conserva
De qualquer forma na garrafa
A validade é eterna
Enquanto agora não passa
Como um vento sólido nas pernas
Ou uma chuva seca na cara
O próximo instante jamais começa.

Haikai como uma luva.


O dinheiro
Vem sempre primeiro
Segundo terceiros.

Num sonho antigo


Nem sempre sendo
O que sonho, eu sondo
Assanhado uma senha
Que me acesse ao senso
Incomum

Em comunhão comigo
Que não parece ser eu
Talvez seja o que se esqueceu
Num sonho antigo
De dia nenhum.

Ela...


Ela se jogou da janela
Do quinto andar
Contudo a lei da gravidade lhe foi mais leve

Sem leviandade
E muito levada
Às vezes trazida
Para não ser atrasada

Aqui se lê vida.

Quando estou


Quando estou desse jeito
Confesso que não vejo
Outro jeito
Para não rasgar meu peito

Imprimo com sangue
Em cada verso que me leio
O coração nunca é estanque

Quando estou com esse humor
Não há coisa pior
Quiçá um tumor
Ou a escassez de amor

Exprimo com meu olhar
Em cada quadro que me sou
O que é terra já foi mar.

sábado, 15 de dezembro de 2012

A tempestade e o brejo


A minha agorafobia se desenvolve
À medida que a idade avança
Eu nasci em mil novecentos e setenta e nove
Já não sou tão criança

Engulo ventos e sapos
Em demasia
Arroto a tempestade e o brejo pra ver se escapo
Da letargia

Antes que seja tarde
Senão eu não durmo
E meus sonhos nem são muitos

Niterói tem a enigmática arte
De atrair dilúvios
Em dias de eventos gratuitos

sábado, 8 de dezembro de 2012

Do mundo em decomposição


Com interesse
Desperto ou não
No meu destino
Quem me dera
Se eu pudesse
Ter a noção
Do corte do fio fino
Da vida, de uma ideia

Numa D.R. com o stress
Mantenho um sorriso no coração
Velho, de menino
Voando de bicicleta
Acima das fezes
Do mundo em decomposição
Num frenético ritmo:
Não será longa a espera.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A tentativa dos chips


A chapa é quente
E o chope, gelado
Que os chips tentem
Chupar o legado
Que ninguém deixa de bobeira
Na xepa da feira.



quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A realidade boia


Entre a praça Arariboia
E a quinze de novembro
A realidade boia

Entre o índio batizado
E o corrente dezembro
Amores e pecados

Desde o grito que pariu o eco
Até onde me lembro
De esquecer o meu ego.


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Mova-se


Imaginando cenas
Sem precedentes
Quando eu me sinto
Ridículo
Mando um sorriso que queima
Igual ao sol potente
Onifuturo fora do muro
Do furo
Que jorra agora
Antes que morra
Mova-se
Mais do que os diamantes e os churros.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Um pouco austero e ainda menino


Altero o figurino
De acordo com a locação
Na louca ação
De ser um pouco austero e ainda menino

Para saber quem eu sou
Não há análises
Nem sínteses ou
Dossiês de praxe

Estou no colo do céu
Colhendo as nuvens que se distraem
Quando olham para o meu
Poetic way of life

Talvez seja o fim
Ou o próprio meio
De dizer para mim
E para o mundo inteiro.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Dolorosa delícia


E dentro do sorriso perfeito
Há um siso ou uma cárie
Cada um pode ter seu jeito
Contanto que não varie

Todo dia tem seu desfecho
As horas se repetem, porém passam
Se eu for meu maior desleixo
Será uma espontânea desgraça

Sem bancar a vítima
Tampouco o mártir
O que me alivia é saber que a roda é viva
Como a dolorosa delícia da arte.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Às pessoas que você talvez conheça

As pessoas que você talvez conheça
Podem ser de cera

As pessoas que talvez conheçam você
Podem ser de brincadeira

As pessoas que talvez se conheçam:
Quase a população inteira

As pessoas que numa tal vez se conheceram
Entenderam que a vida não é só esteira.

Arte cínica ou a mais impura realidade


Daqui a pouco
Vou me desligar
Deste mundo tosco
Sem me desplugar
Já pusera o dedo na tomada
Desde a primeira tomada.

Para entrar num filme colorido
A sala de cinema é tão escura
Que me acende e me acessa a um esconderijo
Onde o espaço se procura
Pelo tempo em mim pendido:
Agora entendo o motivo da invenção da culpa.

Os sinais que me rodeiam odeiam
As regras da física tão física
E da gravidade tão grave
Não sei se é arte cínica
Ou a mais impura realidade
Parindo mais uma lua cheia

Nada parece
Que acontece de acordo
Com o que me apetece
No apartamento que me tece
Um comportamento em que moro
Então eu acordo, sonho e me locomovo.



Enquanto os versos acontecem


O dia começou há meia hora
Mas não é hoje agora
Só quando a noite vai embora
Anunciando a nova aurora
Enquanto os versos acontecem
Eu penso como quem soubesse
Agir e reagir em todas as teorias
De nada adiantaria:
Eu sou virtual
E a vida, um ritual.


Embora possa ser original


Eu não sei o que dizer agora
Embora possa ser original
Minhas dúvidas vigoram
E a dádiva é sempre genial

Eu não ando no corredor
Por onde passa a fumaça
Dos canos correndo a dor:
É fato, não é mais ameaça.

Eu ainda me importo com o que serei
A não ser que estejamos mortos e sós
Cada um sabe o que fazer
Como se sobrasse algo para nós

Eu não tenho a ambição
De que a maioria gosta
Cumprirei meus sonhos como são:
É a certeza, não é uma aposta.

Talvez passe


Não sei o que almejo
Para sempre
Desde que tenha o mesmo
Tempo de estabilidade
Do meu desejo
Talvez passe
A impressão
De que sou imprudente
Mas sinto a profundez
Nos instantes mais velozes
Como se fosse
A última sessão
Do dia em que o filme sai de cartaz
Indo para outra estação.

A partir de então


O sol se assentou
E nada parece
Estar aqui, tudo se ausentou?
O que permanece
É a mudança de suas roupas
E de algumas poucas
Ideias
Que chegam quando menos se esperam
Da janela
Vi o teor
O terror
Da noite em que me poupei
Em prol do descanso
Danço e alcanço
As luzes além das do globo
E os sábados
Terão outros embalos
A partir de então
Eu me calo.

Além do todo


Enquanto que, no deserto,
Qualquer minúcia
De um nanico objeto
Que muda
Pela ação do tempo
Adquire uma elevação
E uma singularidade
Impressionantes
Na cidade
A overdose de imagens
De placas gigantes
De sinais e de cartazes
É gritante
Há muitas coisas na estrada
Para serem lidas e vistas
Os olhos precisam
Descobrir o nada
No intuito de verem além do todo
Descansando um sentido
E ativando outro.

domingo, 25 de novembro de 2012

Riscando e arriscando


Eu escrevo só
Porque fui alfabetizado
Senão continuaria desenhando
O que não deixo de fazer
Com as palavras
E com os seus sons

Caso resulte algo pior
Do que o imaginado
Sigo riscando e arriscando
Entre a angústia e o prazer
Sem cortar as asas
Da loucura sã dos sonhos.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Recalque


Eu não queria que fosse verdade, mas
há pessoas mesquinhas e más.

Tudo bem, eu tenho as minhas fortalezas,
inteligências e belezas.

Eu não vou deixar de viver
Por causa da tua maneira maléfica de me ver.

Eu vou seguir bebendo a minha cerveja
A despeito da tua inveja.

Eu nem nutro raiva, é coisa tão pequena
que apenas sinto pena do que te envenena.

Recalque, recalque,
quanto mais em surdina, melhor...

Renasce, renasce,
quanto mais para cima, menos só.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Sem excesso de continência


Num exílio voluntário
Para saber de onde vim
Quiçá um idílio solitário
Caso eu não saia de mim

Nuvens psicodélicas
Ofertam ao fim da tarde
Uma faceta mais poética

Eu vou andar descalço
Para beijar com os meus pés a terra
Atendendo ao chamado
De alistamento para a guerra

Sem excesso de continência
Pela minha própria vontade
Em busca da quintessência

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Perto de hoje


Através de palavras sem sentido
Eu tento expressar tudo
O que me tem acontecido
Dentro e ao redor dos minutos

A noite será exótica
Com o desmaio do sol
Diante da lua nova
Para a vida ficar melhor

Eu faço parte de sonhos tão enormes
Quanto os olhos como se vissem
O já desperto que ainda dorme
Perto de hoje, dia do eclipse.

Totalmente nada


Entre o condicionamento às regras da vida
E o indeferimento das próprias fantasias
Onde é que eu fico
Com meus falíveis versos invictos?

A minha paixão assaz concentrada
É pouca
É desconcertante
É louca
É distante
É oca

Vale totalmente nada
Para ser comprada
Com a minha alma boquiaberta
Por estar certa de que pertence a um poeta.



A respeito do agendamento da minha vida


Sentado na ponta do sofá-cama
Penso se me safo do coma
Enquanto a morte não me chama
De volta
Flutuo sobre a poltrona
Estrategicamente voltada à tela
A que seu olhar - sua janelona - se atrela
Apesar das estrelas
De brilho raro
Eu não paro
De refletir
Sem espelho claro
A respeito do agendamento da minha vida
Numa folha antiga e esquecida
Numa rolha que abriga a bebida
Juntamente com a garrafa
Junto à mente o corpo
Numa tragada desligada
Se vencer ventos birrentos com o próprio sopro
Se dispensar o sono para ter sonhos.

Pelo peito nu


Recebendo a brisa sem temperatura
Pelo peito nu
Eu percebo a fria quentura
Do fogo, leito azul

O tempo satisfeito no seu caminho
Penetrando em nós
Às vezes estamos sozinhos
Inundam os pensamentos e circunda a diminuta voz

E o brado se sussurra
Eu não quero nada disso
Ao jogo de puxa e empurra
Eu me mantenho omisso

Nem sempre o que foi
Pode continuar a ser
Ilusão até cegar quem não crê
Na união entre prazer e dor


sábado, 10 de novembro de 2012

Um híbrido de amor e cio


Envolto neste sopro de calor
Com o rosto ainda de estio
Cinza, brilho de outra cor
Um híbrido de amor e cio

Sou levado para casa
Com o tempo e o espaço
Enquanto tudo pulsa e passa
Não posso pensar no acaso.

A noite absorve


Baseado em que fundamento
Entendo
Eu entregue à sorte?
A noite absorve
E dissolve
Sem chiado as estrelas
Poeiras cósmicas tão mortas
Quanto óbvias e belas
O que deixa sua retina torta
É a esquina que você não dobra
A calçada
Nem atravessar ousa
A rua, mesmo com a luz avermelhada.

Apesar do limo nas pedras


Caminho que escolho
Fruto que colho
Êxtase e agonia que encolho
Dependendo do olho
Passos
Em falso ou não
Recolho
E faço a mistura no molho
Não é fácil
Dura um pouco
Tanto a preparação como
A ensejada digestão, sonho
E proteína, além de outros nutrientes
Na minha sanguínea corrente
Que caminha sempre na frente
Apesar do limo nas pedras
Eu rimo com o que se envereda

Túneis nítidos


Penso no que fiz
E nisso engloba
O que não fiz
Não fui eu quem quis
Mas quem é que duvida
Da vida
Não pode ser feliz
Mantém um rosto de despedida
E um lenço no bolso
Profundo
Dentro do seu mundo
De cores, luzes, sons em carne e osso
Flores, nuvens, tons híbridos
Dores, túneis nítidos
Na minha cabeça
Tanta coisa passa
E sempre recomeça
Dentro do que imagino

As coisas fundas e rasas
Num filme contínuo
Todas as formas possíveis
Todas as ruas nuas e as casas
Alargando todos os níveis
A lenha corresponde à brasa
E se o tempo se esconde
Não é que atrasa
A sua chegada
Nessa estrada calada
Sem placas nem sinais
Sequer horizonte
Mas as asas vão bem mais longe.



Por entre as quatro paredes


Por entre as quatro paredes
Vejo o quão sou limitado
Agora
Percebo minhas fomes e sedes
Como desejos descontrolados
Embora
Você não possa entender nada
Não é porque não somos da mesma cultura
É que
Sua horta não está sendo irrigada
E, irritada, não se importa com a agricultura
Seque
É o verbo emanado do eco
Xeque
Mate o que não está vivo
Ataque-me enquanto peco
Peque.

Sílabas em palavras reticentes


Quando você diz para
Minha parte razão se separa
E dispara
Parte como um trovão
No meio do céu todo
Um feito, um clarão
Que brilha de tal modo
Que cintila constelação

Às vezes sou um astronauta
Nutrido por pílulas
De ilusão que sempre faltam
Como se fossem sílabas
Em palavras reticentes
Onde o medo da reação impera
E as letras se prendem nos dentes
Enquanto os ouvidos esperam
O que os olhos já perceberam
E a mente então processa
A sua reação que começa

A brotar da sua pele, raiz
Que floresce e tinge
O que se finge
E se repara
Quando diz
Para.



Dentro, fora e através

Não quero construir nenhuma casa
Não penso em edificar nada
Só preciso me sentir em casa
Em qualquer lugar do mapa

No topo do morro
Na beira da praia
Enquanto não morro
Minha casa se adapta
Ao que lhe cai no gosto
Desde que não faça falta
Há de haver o meu rosto
A cor e os seus tons da alma
Para que eu me sinta disposto

A receber as vibrações do ambiente
Que me deixem bem e contente
Há ruídos na corrente
Eu me mantenho sempre em frente
Com sonhos e dúvidas cruéis
Machucando a sola dos meus pés
Sou dentro, fora e através. 

Em nós, tão longe


Estrelas fabricadas pela civilização
Constelação no teto dos túneis
Que seguem retos e sem direção
No horizonte alhures
Eu sei que nunca está parada a ponte
e que se acaba a calma do monge.

Cansei de me vencer por cansaço
Impaciente, eu me faço pela mente
Ampliando e limitando meu espaço
Um metro quadrado por luz diferente
Mas proveniente da mesma fonte
Que se esconde em nós, tão longe.

Videoclipe


Parece que me é dita a verdade
Como se fosse brincadeira
Apesar de morar na cidade
Ainda aprecio a lua cheia

Antes de sonhar concreto
Depois de ir
Acordando já desperto
Não sabendo se vou dormir

No fundo de tudo é nada
O mundo é feito de superfícies
A pele deixa a caveira velada
E minha vida é um videoclipe

Quando for a Marte
Meu combustível será outro
Quando viver de arte
Espero não estar morto.

Cânones e outros canos


Foi mais ou menos nessa hora
Que nunca será agora
De novo
Já fora
Quando pensava noutro
Momento anterior
E outras horas passavam
E não disse o que se passava
Não é prova
Entre prazer e dor
É a velha coisa
Nova
Para que cada pessoa se mova
Na sua própria estrada
Essência experimentada
E não previamente mastigada
Em cânones e outros canos
O certo
O hábito robotizado há anos
Diferente talvez
Dos sinceros planos
Que o acaso
O caos reduz após a nada
Do que sua expectativa só aspirava.

Existência aleatória


A cada visita
Na casa, encontro vistas
Que exalam deslumbramentos

Não ouço buzinas
Não me fecho nas cortinas
Nem nos engarrafamentos

Apenas o silêncio, as maritacas
E os discos, voadores e compactos, de eras passadas
Do novo aposento.

Em Conservatória
É uma existência aleatória
Com que me oriento.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

De mim por fome e sede


Eu nem me importo
Tanto com o peso
Que suporto
Nos ombros indefesos
Aos olhos de quem vê torto
E inventa uns direitos:
O de seguir morto
Só pra citar um exemplo
Mas eu vou mencionar outros:
A caminho do centro
De mim por fome e sede
De autoconhecimento
Ouvi “Carry that Weight”
Li a carta soprada pelo vento
E sei que minha pele não é parede
Tudo tem seu devido tempo.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Acordei suavemente com um mastodôntico estrondo


Acordei suavemente com um mastodôntico estrondo
O hospital Santa Mônica foi ao chão
E agora só há helicópteros da televisão e escombros
Atrapalhando o tráfego que já soa procissão

Em pleno feriado
Do dia de finados
Ouço a sinfonia enlouquecedora da obra
E as pessoas que choram
Nos cemitérios
Nos seus mistérios.



quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Da estrada ou do livro da vez


Não mais deixo
A porta fechada
A visão no eixo
A cada piscada
Amplio o que vejo

Não mais me fecho
Não é muro a minha tez
Agora é um novo trecho
Da estrada ou do livro da vez
Ao passo que escrevo

As folhas


Eu arranco as folhas
Do calendário
Assim que o mês renova
Para me sentir mais longe do passado
Apesar da nostalgia
Que desde a infância me permeia

Eu extraio as folhas
Do caderno
Chamado de memória
Para me sentir um pouco eterno
Embora morra qualquer dia
Dormindo ou na rua de bobeira

Eu fico com as folhas
Da árvore
E não é minha escolha
Somente a frase no mármore
Mas eu vou virar cinzas
Para renascer outro das mesmas.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Para atravessar os cactos


Junto os cacos
Para sair do caos
Já cadavérico
Em direção a um mais poético
Eu tenho os meus direitos
Que nem sei direito
Espero passarem os carros
Para atravessar os cactos
Que têm muito a me ensinar
Enquanto o sertão não vira mar.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O que pintar do ar


Danço com a ansiedade
Enquanto o otimismo me espera
E a indiferença nem está na festa
- Não foi por falta de convite –

Cada hora leva uma eternidade
E eu ainda não sei como lidar
Com o que pintar do ar
De qualquer forma não será o mesmo limite.

sábado, 27 de outubro de 2012

Daqui


Dá para escrever um tomo
Com os copos que abandono
Por aí

Dá para compor uma marchinha
Com as tragicômicas notícias
Daqui

Dá para acabar com a miséria
Com as economias estratosféricas
Dos oligopólios

Dá para mudar o mundo
A partir da mudança do seu nesse segundo
Nesse piscar de olhos.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Até na vida


Eu poderia cometer as mesmas coisas
Pegar os mesmos ônibus
Gargalhar sem achar graça como um trouxa
Esganar as gargantas dos sonhos

Eu poderia me submeter à velha rotina
Submergir-me nos mesmos ritos de insucessos
Substituir a minha vista pelas já puídas cortinas
Subjugar o meu universo interno

Eu poderia me remeter ao que fui
E me ater à redoma de vícios
Mas até na vida tudo rui e flui
É assim que funciona desde antes do início

Desobstruído suspense


Não quero mais me sentir sem sentido
Sal não é açúcar
O café não tem culpa
Ah, esses dias de outubro
Deixam tudo tão desobstruído
Quanto em suspense
Não é que suspire e pense
De vez em quando
Nem sempre
Por enquanto
Quase nunca
Em noites confusas
Em busca de um sol diferente
Como o sonho da gente.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Esta chuva me trouxe


Esta chuva me trouxe
Uma fome nada doce
Sem fins lucrativos
Só no voluntariado

Esta chuva me trouxe
Reminiscências de outros hojes
Tão presentes quanto longínquos
Quando o passado volta ao passado.



terça-feira, 9 de outubro de 2012

Atrás dos versos


O sol cai apertado
Entre os prédios
Meu coração bate amarelado
Nas veias corre tédio

E eu atravesso
A rua e outros canais
Atrás dos versos
Graças aos sinais.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Cara de um, focinho de outro

Oi, eu vim aqui para falar de mim
Mas geral acha que eu sou outro
No caso, meu cover, meu sócio
Meu sósia, meu bróder, meu gêmeo
Meu signo
Somos uma espécie de univitelinos
gerados pela mãe Net
Cara de um, focinho de outro
No universo virtual eu sou Tchello
E eu me chamo Marcello
Com certidão

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O mínimo de fé


Inevitavelmente o trinta
Recebe uma multidão
Na rua da Conceição
Depois das cinco

E eu só encontrei um pé
Da sua meia tão pequena
Na cama que não mais aumenta
Nas costas a dor

Não é para que cada um sinta
Igual ao meu coração
Ainda sei como as coisas são
Por isso brinco

Mantendo o mínimo de fé
O que difere de quem teima
Em temer o cinema:
O filme não acabou.


quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Reveses e benesses


O que vem à tona
Leva outras coisas
À velha  lona
Toda luta é difícil
E traz sentido
Ao que se transparece
Entre reveses e benesses
A quem mostrar interesse
Na paz de espírito
E no que tem acontecido.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Alguma alegria do ar


Eu me sinto mais à vontade
Nas noites pares
Solução não é só
Um soluço grande
Não adianta se irritar
Embora seja difícil a abstração


Eu fico bem supimpa
Nos dias ímpares
Faça chave ou sol
O tempo sempre garante
Alguma alegria do ar
Em qualquer estação

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O atual esporte dos anos dez


Os ares do novo tempo
Sopram os dominós
Se estivermos atentos
Não cairão sobre nós
Só os espigões de Niterói

Por algum entendimento
Do momento de maracujás e cafés
Pratiquemos já o esquecimento
O atual esporte dos anos dez
As pedras obedecem e descem

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Verdades inventadas


Eu sei que você tem detestado
os comerciais de supermercados
cujas músicas grudam
como nunca na cuca

E reconheço que você não crê
ao falar que da praia veio
a areia em frente ao apê
através do vento violento

Verdades inventadas
não se repetem
mas se refletem
no espelho da sala.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A quintessência


Discurso às claras
sem estratagema
nem esquemas escusos

Crendo no poder das palavras
e na ilusão do cinema
viajo nas cenas em que atuo

Não espero uma salva de palmas
muito menos reverências:
a quintessência fala pouco com os surdos.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Gosto de não me esquecer


Gosto de não me esquecer da crase
principalmente nas crises
com o estalo de uma ideia
no translado de objetos e faces:
fáceis tempos difíceis

Gosto de não me esquecer da catarse
entre atores e atrizes
no palco e na plateia
decorando sem querer gestos e frases:
teatro de futuros e raízes.

sábado, 18 de agosto de 2012

Pinta terapia

Eu nunca disse que prestaria
por isso estou nessa
após léguas e réguas de dia
a minha própria alma confessa
que sou alheio e faço parte da poesia
como um blasé que se interessa
e depois vejo os copos na pia
os pratos e as cartas sobre a mesa
quando escrevo, pinta terapia
para as linhas ficarem acesas.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Quem não tem delírios usa olhos obtusos


Quem não tem delírios
usa olhos obtusos

Quem não tem domicílio
mora no quintal do mundo

Quem não tem cinismo
tenta seguir seu próprio rumo

Quem não tem particípio
conjuga o verso no futuro

Quem não tem espírito
quer se fazer de cego, surdo e mudo

Quem não tem destino
vai buscar no faro um furo

Quem não é lírico
acha tudo um absurdo



segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Da dança dos neurônios


A vida não é um fluxograma
A música atrai ou espanta
Os traumas, os demônios,
Os fantasmas e os dramas
Dependendo da dança dos neurônios

Entre o maneirismo esquálido
E o psiquismo automático
Eu sou meu próprio piloto
Mas não anda sempre ligado
O meu GPS por desconforto

domingo, 5 de agosto de 2012

A mídia aritmética


A mídia aritmética
conta muitas mazelas
ao sabor da plateia

O que mais vende?
O que faz média?
O que se defende
em repetitivas tragicomédias?

A matemática da sorte
manobra o esporte
na prática do trote

O que mais vence?
A quem interessa?
O que se convence
com paliativas conversas?


quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Meus carmas e minhas carnes


Sobe o que é leve
e o denso desce
parece óbvio
mas nem todos usam os olhos
permanecem cerradas
as janelas da alma
assim o vento farto não visita
qualquer quarto da vista e da vida.

Eu não sou relógio
a qualquer hora choro
tampouco pago
do meu próprio bolso
para ir ao trabalho
ainda que muitos não larguem
o carcomido osso
conheço porque ouço meus carmas e minhas carnes.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Pintura dinâmica


A vista da varanda
É paga em cotas
Mas eu tenho crédito abrindo janelas e portas
Ao ver a pintura dinâmica
E o vento ajuda a secar logo a tinta
O céu se pinta com um azul ímpar
E as plantas dançam
Que nem os seres animados
A moldura é maleável
E o tempo fica malévolo
Só às vezes para evitar o tédio.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Sorriso contra os quebrantos


De modo paulatino
vou me lembrando
do meu destino
só não sei quando
destilo
meu sorriso contra os quebrantos.

Enquanto eu não desvendo
a extraordinária fase
sigo vivendo e vendo
poesia como de praxe
vendo
mas é grátis.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Amigos

Amigos são mais do que os dentes
que ajudam a comer a poeira;

Amigos estão sempre presentes
ainda que não se vejam;

Amigos são oponentes
deve ser alguma brincadeira...

Amigos são os que transcendem
com o peso da leveza.




quinta-feira, 19 de julho de 2012

Livre agora e não mais às vezes


A maré não é sempre mansa
mas quando está pra peixe
nada como uma cerveja
lubrificando a garganta
livre agora e não mais às vezes
a vida quer que me veja
do meu jeito desde a infância
desde que eu me deixe
conforme a sobrenatureza.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Sala íntima de cinema


Cada dia que passa
é um filme inédito
na sala íntima de cinema

Muitos até dormem de máscara
o material deve estar fétido
não serve nem alfazema

O rolo sempre acaba
é preciso domar o exército
com balas de poema

Ainda que não haja
o próprio nome nos créditos
não viver é o real problema.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Olhos lidos


Saber que meu livro
está físico
no Espírito
Santo e em São
Paulo é tão
acachapante
quanto distante
de onde estou:
perímetro corpóreo.
Agora os meus olhos
estão sendo lidos
nestes picos.

terça-feira, 3 de julho de 2012

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Dentre os talheres


Embora não haja alento
É inútil o desespero
Sempre cabe repetir que o tempo
Sabe nos saborear com seu tempero
Mais do que pimenta, sal ou coentro.

Os dias são as colheres
E os anos, os garfos
Dentre os talheres
É evidente que a faca não corta raso
Feito dente na pele.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Quanto tempo?

Quanto tempo se leva
Para manter acesa a vela?

Apesar da pergunta
Eu sei quanto dura.

A dúvida é de uma
Pessoa que me anula.

Quanto tempo levo
Para matar este ser velho?

sábado, 9 de junho de 2012

Através das paredes

É como se nada tivesse sentido
Só para soar transmoderno
Eu ouço uma canção
Através das paredes
E teclo evitando o barulho
De quem dorme perto de mim
Enquanto ouço o marulho.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Imagem e semelhança


Agora o abismo
Tem feito a mudança na vizinhança
Eu não abomino
A sua vacância
Somos sismos e símios
Em imagem e semelhança

Embora a vida
Seja levada na berlinda
Ela segue linda e atrevida
Uma noite a mais é menos um dia
E a letargia causa alergia
Estou vivo ainda.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Causa justa


É preciso honrar
As causas que veste
Cada causa é justa
E realça
As coisas juntas

É mister urrar
Na casa celeste
Cada casa é única
E abraça
As pessoas que escutam.

Quando não como feijão

Quase entro em depressão
Quando não como feijão
As pessoas engaioladas nos carros
São mais solitárias do que o arroz
Papado e papeado pela cultura
Mas um dia a natureza sutura.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

De um magro maio

Não sou mago
Mas eu fico pasmo
Com o espasmo
De um magro maio

Vejo, não mais pago
Para ter entusiasmo
Ouço Erasmo
E alço voo num desmaio.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Da articulação dos ossos

Não há nada de novo
Exceto a vontade
Da articulação dos ossos
Como das frases
Que me frisam desde os oito
Anos de idade
Não me sinto tão afoito
Quanto eu era nalgumas fases
Agora ando e me encontro
Já fizemos as pazes.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Colírio, delírio e atenção

Eu não abro de forma imediata
Qualquer carta
Que venha para mim
Correspondência de banco
Quase corresponde a um documento em branco

Eu não fecho logo
Os meus olhos
Na hora de dormir
Colírio, delírio e atenção
São propícios à visão.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Heroicos versos inúteis

O pólen da polêmica
Vira súdito de súbito
Da tradicional novidade
O bônus de viajar de ônibus
É ser guiado por sonhos
Apesar da realidade
Eu quero andar
Com as nuvens
Sobre o mar
Entre túneis
Muros, pontes
E horizontes
De heroicos versos inúteis
De bicicleta
E a pé, com fé
Na poesia cética
Que me deixa a vista aberta
E num piscar cega.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Festas, jantares e churrascos

Sempre fico ressabiado
quando me convidam
para festas, jantares e churrascos
onde cada um fala como venceu na vida

Eu arroto picanhas e cervejas
em vez de vitórias,
tenho asco de sorrisos mascarando invejas:
ainda sigo vivo pelas memórias

Cultivo amizades de longas datas,
guardo fotografias, livros, agendas,
provas, cadernetas, cadernos e a alma farta
de propostas para pô-la à venda.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Desurbanizar

É preciso, mais do que nunca, desurbanizar,
estou asfixiado desta verticalização tamanha,
torna o horizonte mais longe do céu e do mar:
onde estão as casas e as coisas da minha infância?

A especulação imobiliária
vai imobilizar o fluxo,
a cidade está tão inchada
quanto os bolsos dos políticos com seus negócios escusos.

Em vez de arvoredo,
uma selva de cimento,
o que não salva ninguém do medo
do cotidiano violento:
eu quero entrar numa máquina do tempo
se tudo virar um só excremento.

Navios nas minhas costas

Transporto navios
nas minhas costas
e dos meus gritos
poucos gostam,
lírico, eu me silencio...

Ninguém é vazio:
sempre há as respostas
quando me inquiro
abrindo as portas
e as janelas do espírito.

Eu não sou um desejo involuntário
nem um risco desnecessário,
estou fora deste itinerário,
se ainda não saí, eu paro,
espero, espirro e me depuro.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Mais doçura e menos açúcar

Apesar da sobra
Da pressão própria dos sais
Da insônia insossa
Vou dormir e domar
A sede toda
Bebendo o mar
Como quem sonha
Com a cor do ar
O acordo da onda
Com o radar
Para que a sonda
Apure seu paladar
Por uma vida sabiamente saborosa:
Mais doçura e menos açúcar
Quiçá eu possa,
Oxalá!

Por mais que aconteça

A madrugada avança
E cansa
A minha leveza

A noite é uma dança
E sangra
Quando a manhã chega

O dia é uma esperança
Tardia na tarde estranha
Por mais que aconteça.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

O que serei será

O que serei será
uma esperada surpresa
um ermo lugar
uma personagem
solta e presa
na cartilagem
da minha pressa
entre a coragem
e a cautela
após a camada de preguiça
ser removida
o que serei será
da minha cabeça
do meu olhar
do coração uma defesa
em pleno ataque
uma luz bêbada
de eletricidade.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Embora não esteja

O tempo anda
liquefeito
e liquidado, bacana:
nem tudo é perfeito

embora não esteja
com os nossos defeitos
gosto de cerveja
e do que tenho direito.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Abantesma

Cadê a mala
Com as minhas roupas?

Estava comigo na sala
Além das sombras

Cadê a vala
Onde nadava com pompa?

E a circunstância rala
O tempo como coisa.

Cadê a alma
Quando quero tê-la?

Eu não sou mais nada
Do que um abantesma.

domingo, 18 de março de 2012

Talvez tudo seja de fato

Licença poética
Erro de gramática
Observação crítica
Constatação clínica

Talvez tudo seja de fato
Do mesmo saco
Ao passo que passo
Entre o marasmo
E o entusiasmo
Lento tempo rápido

sexta-feira, 16 de março de 2012

Quando você sai do banho

Quando você sai do banho
Toda cheirosa
Eu busco
Um beijo no seu pescoço e ganho
Perfume na boca
E cuspo

O que é um agrado
Para o olfato
Nem sempre consegue encantar
O paladar.

terça-feira, 6 de março de 2012

As plantas

Enquanto eu tento
as plantas me protegem
e quando não venho
não há quem as regue

Só quando a chuva
ganha a ajuda do vento
uma força diminuta
de um minuto pelo menos

A qualquer momento
nesta varanda
com vista para o mundo

Às vezes eu fico tão atento
quanto as plantas
de um vaso raso e fundo.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Seu Pedro

Eu nem olhei tanto
para os meus cabelos
cortados e pretos e brancos
deixei-os crescer por quatro meses e meio

Seu Pedro é vascaíno
é barbeiro e nordestino
Ele é um artista
que trabalha com carinho
igual a uma criança distraída e talentosa
veio para Santa Rosa
na Duque Estrada com a Doutor Sardinha
há mais de cinquenta anos o meu vizinho.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Todos os animais

O ano começa
depois das cinzas
e da ressaca da festa
que ecoa ainda
como um sonho interrompido
eu tento ter de novo tanto cansaço
para cair feito líquido
apesar de ser um pássaro
mas eu sou muito mais
do que uma ave:
sou todos os animais
selvagens e suaves.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Enquanto a realidade não volta

Eu vou ficar quieto
Deixando que os meus olhos
Sejam mais histéricos
Do que uma porta

Eu vou falar sempre
Que a poesia estiver embaçada, em foco
Olá, como vai? Entre
Enquanto a realidade não volta.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Desde que me deixem

Navego por mares
desconhecidos
por insights
discos e sítios
plurais e singulares
não é só soldado que faz sentido

Nado como se não fosse nada
movo as mãos e bato as pernas
para não perder o ar, a terra e o fogo na água
nem a intuição no meio da baderna
vou no fluxo desde que me deixem
eu não fujo de mim, sou mais um peixe.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Audiência cega

Se não passou na televisão
Que filtra informação
E dita aberta
É como se ninguém
Tivesse visto também
Audiência cega

Ao menos, há as redes sociais
Onde quase todos os perfis são reais
Assim como os brasis que não têm pecê
E conhece só um matiz dos fatos pela tevê
Mas as coisas estão mudando aos poucos
O poder deve seguir a vontade do povo.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Parece cinematográfico

De tão constante
e refrescante
o vento em Rio das Ostras
parece cinematográfico
as casas pertencem a um cenário
de realismo fantástico
e as praias são de outra
dimensão
eu sinto em cada grão
de areia e em cada gota
do mar a presença
de uma força em que não se pensa
de forma científica,
mas de uma maneira mística.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Vários folhetins diários

As pessoas veem tanta novela
Que pensam que ninguém se afeta
Com o que se passa na tela:
A cupidez
A violência
A sordidez
A chantagem
A estupidez
Não digo que nada não seja inerente à personagem
Chamada de ser humano
Mas os vários folhetins diários,
Massivos e tacanhos,
Pasteurizam e uniformizam os comentários
Os comportamentos
E o gestual
Ser autêntico é a moda atual.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Nunca se lembrarão

O isqueiro furtado
Por acidente, claro,
O aparelho de tevê
O teclado
O sofá
Os quadros
Os chinelos
O abajur apagado
Os travesseiros
O ar condicionado
E as cortinas
Nunca se lembrarão
De que a vida é curtinha.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Enquanto sigo na jornada

Retorno para casa
Entorno a calda
E entorto cada
Contorno da cara
Quando ela encara
Uma luz tão clara
Que não se vê nada
Enquanto sigo na jornada
Aqui consta alma
Sem precisar domá-la
Para que caiba
Na minha arriscada calma.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Em plena ilha

Com as gaivotas
e os golfinhos
não há derrotas
não me sinto sozinho

Em plena ilha
não me vejo ilhado
e fico na pilha
de estar ao seu lado

Pago vinte centavos
na lan house a cada minuto
e tenho versejado
através do mouse, sob um surto.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O sol sempre volta

Entre sístoles e diástoles
a gente vive
no interior e na megalópole
como os fotogramas de um filme
eu vou com as águas do rio
perpassando mágoas e pedras
e me reconheço nos ritos
de recônditas florestas
o sol sempre volta
já estava com saudades
do céu abrindo as portas
para dissipar a tempestade.