quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Pelas vidraças sacudidas

O vento sibila
Pelas vidraças sacudidas
E eu não sabia
Que ficava com medo

E é só uma canção no topo
Das paradas enquanto volto
A encher o copo
Tem que permanecer cheio

O navio como exército
O cínico como certo
O ridículo como sucesso
E eu tento me manter alheio.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Mais sentido à vida

O que me decola
Mesmo que seja um gole
Não me degola
Por mais que me descole

O sol ressurge
Ainda que acanhado
E espremido entre as nuvens
Já torna o dia dourado

E este cheiro de comida
Das cozinhas imediatas
Dá mais sentido à vida
Apesar da fome que morre e mata.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Novembro raro

A chuva como de costume
Faz o seu papel
Cai das nuvens
Suspensas no céu
Suspense no ar
Novembro raro
Eclipses solar e lunar
Sob o signo de sagitário
As roupas atraiçoam
Nada mais é imaginário
Desnudam-se as pessoas
Cadeiras e moscas mudam de lugar.

sábado, 19 de novembro de 2011

Tempo de espanto

Séculos antes da elegia para a ecologia
e do estado sacro da hipocrisia
os índios já tinham se civilizado
os rios, límpidos, corriam
os ritos e mitos estavam longe de virarem manias
e o mundo dito selvagem ao seu modo era organizado.

Eu nutro intuitivamente um banzo
pelos dias de antanho
e o tempo me dissolve
para um tipo de tempo de espanto
de quando tudo era em preto e branco
eu existo antes de mil novecentos e setenta e nove.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O que a noite me traz

Estou gostando de ficar aqui
Depois de um frenético ano
A casa começa a morar em mim
E às novas mobílias vou me acostumando
Bem como a varanda virando jardim
Chamariz de pássaros e proteção do meu canto

Vou teclando o que a noite me traz
Sem que eu veja as teclas sujas de cerveja
Daqui a pouco acendo os castiçais
E derrubo os castelos de areia
Enquanto a lágrima não cai
Senão enlameia

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O sonho é o lugar

O brilho do olhar
Pode ficar a qualquer instante
Fosco e sombrio

Aonde eu for andar
Por mais que seja distante
Um dia atinjo

O sonho é o lugar
Em que o depois se funde com o antes
Gerando o agora contínuo

Enquanto eu respirar
Nada será asfixiante
Apesar do salário mínimo.

sábado, 5 de novembro de 2011

Alguma vantagem

É um mundo selvagem
vendem-se as almas
e vendam-se os olhos
achando haver alguma vantagem

É uma cidade caótica
moramos em jaulas
à espera do espólio
julgando ser uma boa troca.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Outros tempos

Boa tarde, devo confessar
que estou com menos medo
e nem me sinto no mar
puxando água como cabelo
além das memórias absurdas

São outros tempos
agora há mais poros
e poucos impedimentos
o bom senso é o melhor protocolo
ontem ou anteontem foi o dia das bruxas.