terça-feira, 26 de julho de 2011

Fingindo ou tentando ser pacato

Acho que ainda não sei
Se o que aspiro
É o mesmo do que preciso
Meia dúzia ou seis?

Às vezes me pergunto
A que lei me submeto:
À do coração ou à do medo?
Na verdade, não penso noutro assunto

Parece que não capto
De imediato a resposta
Como se lhe desse as costas
Fingindo ou tentando ser pacato

terça-feira, 19 de julho de 2011

Reflexo, reflexão

Eu fico estupefato com o outro pela imitação
Perfeita de mim
Reflexo, reflexão
A flexão é o exercício do não para ser sim
Se eu sorrio
O clone me mostra os caninos
Que já foram mais alvos
Se eu choramingo
As lágrimas pintam
Através do quadro mutável
E eu não consigo secá-las
Passando o lenço apenas no espelho
Como se eu não tivesse cara
Um dia me tateio
E acabo sabendo que aquele cara
Intangível sou eu mesmo.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Um ser autêntico

Eis-me envolto
Em dúvidas
Feito as músicas
De péssimo gosto
Das rádios popularescas
Que impregnam como tinta fresca

Parece que a vontade
Supera a noção
Para recauchutar o coração
E chutar o balde
Sem a vã preocupação de machucar os sonhos
De que não sou dono

Diria que está prestes
A nascer um ser autêntico
Se eu não soubesse
Que sempre esteve aqui dentro
Igual a uma espécie
De grito amordaçado pelo acovardamento
De quem me rege
De quem dependo.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Ninguém ou você

Num lapso
Ou de veneta
Escrevo a lápis
Minha velha caneta
Na lápide
Através da luneta
Para me observar
E me obliterar
Até eu ser
Antes do que sou
- Ninguém ou você -
Serei alguém por amor

terça-feira, 12 de julho de 2011

A áspera espera

A áspera espera me tranquiliza
À parede lisa
E eu desço com lisura
Tenho medo de altar, de altura baixa
E nojo do arroto de caviar
Quando se come sardinha

A áspera espera me arremessa
À virada de mesa
Preciso andar com mesura
Agora que vivo sem mesada
Embora adore uma dose cavalar
Da sua doce companhia

Apesar da síndrome da nanica autoridade
E dos sorrisos alheios e cheios de dentes que só sabem ruminar
Um nanossegundo de probabilidade
É capaz de me perpetuar
Não como uma estátua
Onde os pombos se satisfazem
Mas como uma palavra
Grafada em cartazes
Corteses de tanta certeza
E dos meus poros transpira à espreita a áspera espera.

O sol é uma lua absurda

O sol atua
No papel da lua
Por trás dos véus
De nuvens e de pano
Não sai dos céus

O sol é uma lua absurda
Que nunca muda
É uma lua perenemente redonda
Que continua flutuando
A despeito das ondas

O sol se finge de lua
Nos dias de bruma
Porque quer ficar no palco
Para alastrar seus encantos
Afinal trata-se de um astro.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

De volta à cova e ao berço

Longe de onde estou
Eu me vejo
Feito meu jovial avô
De volta à cova e ao berço

Parece que sigo
O mesmo script
Sou meu pior inimigo
E o meu melhor revide

Como se fosse um ensaio
Repito as cenas
Cujos gestos e diálogos
Capto pelas antenas

Perto de onde estarei
Cato as migalhas de pão
Da estrada em que já passei
Com quem sempre me deu a mão.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

A sagrada arte da pachorra

Eu me calo pelos cotovelos
Procuro ovo em pêlo
Tenho problemas de calúnia
E processos por diáfana ação e coluna

Não há filosofia melhor
Do que levar a vida com amor
Se a situação anda sinistra
A respiração branda administra

Contraio experiências
E não me traio mais com expectativas sonhadoras
Agora me distraio apenas
Com a sagrada arte da pachorra
Assim atraio aquelas coincidências
Que de fato são coisas sincrônicas e boas.