terça-feira, 26 de abril de 2011

Não sou mais

Eu não sou mais aquele
Muito menos o outro
Agora é apenas uma foto
Na cortiça da parede

Não sou mais quem me repele
Ele está oficialmente morto
Hoje em dia o meu modo
De ser me sacia a fome e a sede

Eu troquei de pele
Foi alto o fogo
E a fumaça me fez ver logo
Em vez da ferida, o bandeide.

domingo, 24 de abril de 2011

No domingo

No domingo de Páscoa
Eu dormindo em casa
Faço um pouco mais do que nada
Do que nadar nas marés das convenções

No domingo de Fla-Flu
Pó de arroz versus urubu
Quero abrir o apetite pra comer tutu
Em vez de ficar no muro das convulsões

No domingo de chocolate
Em que a preguiça late
A decisão pode causar enfarte
Melhor do que estar sob a mira das convicções.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Eterno a qualquer instante

Quando chegar o feriado
Eu quero me esconder no mato
Pra ver se mato as saudades
Da natureza

Quando pintar a folga
Preciso estar de volta
Ao que me invade
De surpresa

Quando eu acordo do verão
Com um bocejo de outono
Bebo um beijo do teu coração
Como um queijo com café longo

Quando aparecer o inverno
Com o frio que não mais me desespera
Sei que estarei eterno
A qualquer instante contigo pela primavera

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O topete e o tapete

O topete anuncia
Episódios
Mais cabeludos
Contudo sem ódio

Eu quero bailar
Deixei de boiar
Agora mergulho
Na terra, no céu
Pra afogar o orgulho
E afagar o labéu

O tapete denuncia
Onde
Estive
Wonder

Eu espero bolar
Um plano
Em vez de pessoas
Sem mais bobear
Pra não entrar no cano
Do navio, à toa na proa.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

À espera do fim da peça

Coesão só rima com coerção
Quando é ministrada
Com lobotomia e paranoia

Já doei o meu coração
Para a nova trama sem traumas
Muito menos tramoias

Conto cada segundo
À espera do fim da peça
A fim de voltar pra casa
Onde eu me inundo
De calma em vez de pressa
Ao lado de quem me atraca
No mar de caos qual um cais

E quando eu saio do meu mundo
Pra fazer o que não me interessa
Tudo fica tão sem graça
Que eu penso que me iludo
Com a mesma velha conversa
De que o salário compensa pois paga
As contas, mas não as espirituais.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Sondando por enquanto

Eu tenho juízo
E não é algo
Que sempre utilizo

Eu mostro um sorriso
Nada cáustico
Somente preciso

Invariavelmente eu me levanto
Com a vontade de seguir o sonho
Sondando por enquanto
O que não significa cair no sono
Mas agir feito os anjos
No reconhecimento dos demônios.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Realidade implausível

Quero me entorpecer com películas
Não sei se estou com uma ressaca ridícula
Ou vitimado de uma overdose de fatos
Também aceito de bom grado
Uma dosagem excessiva de livros
Estou enojado desta realidade implausível
Ocorrendo como esgoto sob o céu em fenda
Não creio no fim geofísico do mundo quase sem saúde
Mas numa nova consciência
Ainda acredito na virtude
Apesar do próprio vício da crença
Que talvez me deixe impune.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Vontade de chorar iminente

Estou com uma vontade de chorar iminente
E não é por causa da derrota
Do meu Fluminense
Nem devido a uma suposta desilusão amorosa

As pessoas precisam mais do que nunca
De carinho e de respeito
Antes que fiquem malucas
Atirando em crianças a esmo

Eu sairia hoje à noite
Se não fossem as notícias
Do mundo sob o açoite
Do materialismo xiita.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Através do toque do vento

Não sou aquilo
Que tenho
Enquanto não aniquilo
Eu tento
Através do toque do vento
Saber me desfazer da ideia
De que as minhas posses
Apenas moram na matéria
Como se fossem
Entre pesos e poses
A completa definição
Do meu tutano
Em degradação
Se eu continuar me enganando
Se não me engano.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Gangorra e masmorra

Eu fico surpreso
Com o quanto oscilo
Feito gangorra
Ontem teso
E hoje tranquilo
O que não muda é a masmorra

Eu nutro uma esperança
De que todos os dias
Considerados úteis
Sejam como os do fim de semana
Com muita luz e folia
Fazendo jus ao que nos une

Reconheço que os extremos
Servem para que nos lembremos
Da existência do equilíbrio
Mesmo que pareça delírio.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Algum sentido

Eu acho que já achei algum sentido
No meu novo trabalho
E tenho a certeza do amor
Separando o meu caminho dos atalhos

Bato no teclado para não ficar abatido
No horário comercial
E o tempo nunca comprou
Relógio nos classificados do jornal

Escrevo trêmulo
Em qualquer espaço
Branco do papel
Eu sou de Gêmeos
Sei que não é fácil
Noticiar os fatos do céu.