quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Depois de um gesto de amor

Quando o conhecimento
Adquirido em enciclopédias
For útil pro orçamento
Ficarei mais calmo na selva de pedra?

A torneira é homeopática
Tanto quanto a chuva
É-me uma tarefa ingrata
Tirar o gelo sem virar o recipiente pra pia suja

O ar condicionado volta
A funcionar por vontade própria
Depois de um gesto de amor

E eu manuscrevo de cócoras
Fazendo de mesa onde deixo o cocô
Porque eu respiro agora.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Como como

A realidade é crua
E eu gosto dela bem passada
Aos dentes do presente que tritura
O futuro vindo aparentemente do nada
Em qualquer horário
Contanto que esteja em ponto
Inclusive o próprio atraso
Que não hesita em contar como como
As cordas no pescoço
As algemas nos pulsos
As cédulas no bolso
E os perigos do impulso
Não me negarão uma realidade com recheio
De sonhos que não sejam os da confeitaria
Mas feitos com aquele tempero
Preparado pelo tempo em fatias de dias.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Sociabilidades

Não sou eunuco
Embora não possua mais saco
Para sociabilidades cujos
Sorrisos programados
Não escondem os dentes sujos
De vinho tinto e barato
De miolos do pão
E do cérebro cenográfico

Além das pedras
Rolam os ossos
E várias merdas
Longe dos olhos
Vidrados nas moedas
Tenho medo dos bons modos
E dos apertos de mãos
Fracos, frios e frouxos.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Chega

Pra mim chega
Uma ideia
Que ninguém tem ideia
De como vem ela

Chega pra mim
Um insight nada light
É tão pesado o danado
Que só acalmo em versos

Eu moro numa rua
Que tem estrada
No nome do vereador
Ver é a dor.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A vida

A vida não é só
Trabalho
Horário
Prazo
E outros assuntos
Que no fundo são rasos

A vida é cada sol
Que se iça
E se põe
Aliás, é mais do que isso:
É aço, osso e essa fome
De urso, fácil e difícil

A vida pode ser melhor
Do que se reflete
Através do espelho
Da televisão e da internet
E do próprio cerebelo
A vida segue, convida e consegue.