quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Poetas e atletas

Nasceram no mesmo ano
Os librianos
Edson Arantes do Nascimento
E John Lennon

Gênio no pé
O rei Pelé
Genioso pela paz
O beatle, o mito, o rapaz

Ambos poetas
No campo
E atletas
Do encanto

Septuagenários e pra sempre no imaginário popular
Pra gente pular ao som, no máximo volume,
Do soco radiofônico no ar
E no estômago dos ditos bons costumes

Eu quero ver gol
De ploc, de placa
De rock and roll
Do que não se aplaca

Imagine o mundo como só uma torcida
No segundo tempo da prorrogação
Da partida pela vida bem distribuída
Pela chegada da revolução.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Dentro de alguns

Dentro de alguns dias
Será mais longo
O meu caminho entre a padaria
E o ponto de ônibus

Dentro de alguns segundos
Baixarei qualquer verso
Palavras de outros mundos
Tão pertos quanto secretos

Dentro de alguns foras
Acatarei cada tonelada do acaso
Como um ingrediente que revigora
A minha dieta de esfomeado

Dentro de alguns interiores
Decorarei, além do poema e da senha,
A casa inteira com cores
Que ninguém quase desenha.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Da corrida do ouro

Eu jamais pedi
Para estar dentro
Da corrida do ouro

Se não tiver fim
O sonho sonolento
Não abro meu tesouro

Não sei se ganhei ou perdi
Gás, nome e tempo
Tudo ainda é tão pouco

Não quero me ater aqui
A este exato momento
Quando vou ficar forro?

sábado, 16 de outubro de 2010

Com uma curiosidade cara

No dia de hoje
Não haverá meia-noite
Aliás nunca houve
Nem amanhã nem ontem

Poucas pessoas e peças
Neste horário deverão
Estar menos possessas
E possessivas com o que é vão

Eu olho para as caras
De todos os transeuntes
Com uma curiosidade cara
Igual à das nuvens.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Na fissura da vontade

Embora não saiba
Do que tenho falta
Eu sei que sinto

Feito uma calça
Que cai na calçada
Apesar do cinto

Faz lembrar saudade
De qualquer idade
Passada ou futura

Na fissura da vontade
Esta lacuna sabe
Tanto quanto eu, como nunca.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

E não foi em nenhum filme

Aparentemente inatas
E inflexíveis
As regras estão ultrapassadas
E não foi em nenhum filme
À tarde ou na madrugada
Que me admirei livre

Para participar do jogo
Sem cartas marcadas
Nada tão a ferro e fogo
Que me deixe as mãos atadas
Com as ideias no lodo
Ao lado de estratégias erradas

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A utopia e a apatia

Entre a utopia e a apatia
Reclamo da realidade
E clamo por poesia
Em vez de declamá-la
Por vaidade na vala
Da necessidade
Eu me proclamo
Via telepatia
Vassalo e suserano
Do meu território
No ar transitório.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Para ver como são as coisas

Para ver como são as coisas
Talvez seja preciso ser
Como enxergam as bolsas
Ainda que não possam ver
Por algum código

Eu quero morar longe
Da cidade grande
Fora dela é onde
Fico menos distante
Dos meus olhos.