segunda-feira, 31 de maio de 2010

A tesoura do relógio

A tesoura do relógio
Repara, apara e não para seus cortes
Por motivos óbvios
Enquanto dispara golpes e goles
Eu me trago e me embriago
E me alago seco no vácuo
Da lâmina dos tempos
Passando pente fino
Nos cabelos sedentos
E sedosos bem cedinho
Junto com os primeiros raios
No derradeiro dia de maio

terça-feira, 25 de maio de 2010

O desenho do esconderijo

Na vaga de algo
Que jamais tive
Vivo de sobressaltos
E voos livres

Paquerando o solo
Na fissura de qualquer alegria
Piro na queda do sol morno
No meu colo como guia

Na ausência do que fui
E do que tenho sido
Apanho do vento que rui
O desenho do esconderijo.

domingo, 23 de maio de 2010

Amnésias e memórias

As minhas saudades são aleatórias
Quase anacrônicas
Entre amnésias e memórias
De pilhéria e crônicas

O domingo me deprime deveras
Quando chega o anoitecer
E as horas passam severas
À espera de um dia que nunca podia nascer

Talvez eu apenas pense
Enfeitiçado pela lassidão
Parecendo estático sempre
Constante feito camaleão.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

O sonho e o desapego

Só o sonho como rota de fuga
Pode ser luminoso e salubre
Não está nos livros de autoajuda
Nem atrás de maquiagens e nuvens
Onde muitos em busca de algum céu se ocultam

O desapego transcende os limites
Do mundo esquizofrenicamente material
Das lojas pseudoantidepressivas de grife
Dos feudos de alegria coagida pelo carnaval
Em ruínas de confetes no quarto de cinzas e crises.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

A própria prova

Acho que não tentei
Por enquanto, pelo menos
Usar todas as formas
Pra não me sentir tão pequeno

Suspeito que não sei
Seguir a receita dos bobos
Ou qualquer outra fórmula
Pra conter os meus arroubos

São tantos termos
Técnicos e histéricos
Que meus papéis enfermos
Por precoces e tardios términos
Dispensam as pólvoras
E se compensam na poesia
A própria prova
Cabal e cabalística.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Do interior

O trem não cessa de passar
Embora já tenha ido
Ainda vejo seus vagões lá
Nos trilhos indecisos

As águas da cascata
Da praça do interior
Sórdidas e paradas
Parecem comigo sob torpor

Espero minha irmã
Chegar pra me levar de volta
Pra casa antes da manhã
Cantar com o galo as novas.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

O tempo ainda tem passado

O tempo ainda tem passado
Na janela do futuro
Com todos os momentos pesados
E pensados por descuido
Aos meus cuidados

Não sei mais o que culpo
Já fui tantas vezes o culpado
Agora pode ser Mercúrio
Que tem retrogradado
Ou a lua fora de curso

Abandonando por puro enfado
Eu não resolvo tudo
De qualquer lado
E não só de dentro surge meu conteúdo
Em dias úteis e feriados.

domingo, 2 de maio de 2010

Quiçá adiante

Inventando desculpas e infâncias
Para compensar por zelo
As minhas extravagâncias
Irrigo meu cabelo
Com o suor da testa

Eu me alastro em passos
Em versos, em diálogos
Com a minha pessoa
Quiçá adiante
Não pode ser atraso

O passado nada mais é
Que um celular fora de área
Eu quero marcar gol através
Da penalidade máxima
E correr para mim, para a arquibancada.