domingo, 26 de abril de 2009

Quase reciclado

Escravo do desejo
Sorrio latindo
Até quando perco
O medo do ridículo

Imerso no meu universo
De nuvens e dum sol que frita
Eu creio que esteja tão certo
Quanto as verdades científicas

Quem me vê com a caneta em punho
Com um ar de urgência
Pensa no teor do assunto
Sem desvendar, apenas tenta

Um dia ainda jogo fora
Todas as minhas angústias
Do tamanho da memória
Elas também são suas

À tarde eu gasto o tênis
Para poupar a passagem
Aparece tanta gente
Que arromba e não se abre

Nesta noite volto ao passado
Pra me lembrar que era outro
Agora eu estou quase reciclado
Da escória do vindouro.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

De outras fontes

Eu não tenho que ser folgazão
Em toda e qualquer ocasião
Eu não estou num comercial
De margarina ou de creme dental

Eu não preciso ser boa-praça
Se considero tudo sem graça
Eu não resido num canal
De televisão ou de moral

Quando eu mostro os caninos
Não quer dizer que eu esteja sorrindo
É pra roer a corrente, é pra correr do curral
Deixando de ser o meu pior rival

Não suporto contrair
A felicidade obrigatória
Fecho os olhos, foco,
Ando, defeco e ouço, não mais falo

Vem de outras fontes o elixir
Da vida, da minha história
Dividida em bloqueios, blocos
E providenciais intervalos.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Fugas, bússolas e raptos

Atravessando um lindo túnel
De bicicleta com guidão bambo
Eu me blindo de óculos escuros
E oxigênio, ambos baianos

Atravessando a parede
Com o ânimo do desapego
De si próprio, em descanso na rede
Controlo mais o meu ego

Atravessando máscaras
Graças à sutileza do radar
Sei que a lapidação é cara
Com tanta poluição para dar

Atravessando trevas
Sob o amparo do acaso
Eu me adapto nesta selva
De fugas, bússolas e raptos.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

O meu humor

O meu humor péssimo
Não me permite pegar no ar
Nem me faz empréstimo
Só me ajuda a piorar

O meu humor intragável
Não me traz nenhuma saída
Sedosa, saudosa ou saudável
Contra os gestos suicidas

O meu humor cítrico
Não me cura da gripe
Muito menos o meu cinismo
Consegue me deixar livre

Do meu humor à primeira vista
Do meu amor às cegas
Mais para hipermetropia
Do que pura entrega.

Autocrítica

Quando acho
Que me iço
Eu fico mais baixo
Do que o abismo

Nem mesmo supondo
Que estou contente
Eu me assombro
Como sempre

Quanto mais penso
Que me expando
Eu me apequeno
E desço o pano.