terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Danos lucrativos

Doses torrenciais
De vinho e chuva
De solidão e verão
Em tardes demais

Ditos de passagem
Por cima, em suma
Num suco da estação
Pra que pouco se estrague

Danos lucrativos
A esta altura
Do campeonato sem campeão
Nem vencidos.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Calculado via intuição

Enfrento com otimismo
Calculado via intuição
Os dias à beira do abismo
Do ano que acaba não
Nem com um atentado

Falo comigo próprio
Em tom perigosamente sério
Para me manter sóbrio
E a par de poucos mistérios
Que já estão dissecados

Mas eu não me acabrunho
Há ao redor resíduos
De tédio desde o primitivo junho
Quando era filme em vez de vídeo
Sob um funcional teatro.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Ciente

Ciente de que a minha rota
Não será sempre reta
Não posso deixá-la rota
Pros ratos fazerem festa
Mormente com as migalhas

Ciente de que o meu risco
É indício de vida
Vou descobrindo ritos
Como quem duvida
Afinal, certeza demais falha.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Feito humor

Recuperando meu lado telúrico
Eu me sinto menor
Ficando de novo lúcido
Faminto, louco e melhor

Saboreando o cheiro de estrume
Eu caminho sem pânico
Seguindo o vaga-lume
Não nado de costas no pântano

Precisando parar de roer os dentes
Enquanto movo feito humor os olhos
Eu sonho com um mundo diferente
Sem asco, sacos plásticos e ódio.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

E eu nem pedi pra jogar

Já perdi a conta
Da coleção de projetos
Que eu engaveto

Já perdi a pompa
E qualquer circunstância
Encenar me cansa

Já perdi tanta coisa
Que não mais me causa
Remorso ou trauma

Já perdi pra raposa
E eu nem pedi pra jogar
Só me resta o ar.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Um pouco longe de agora

Eu necessito perder
Para ganhar a sobra
Tenho que não ter
Pra receber algo em troca

Eu sei que não vai ser
Exatamente nesta hora
É bem capaz de acontecer
Um pouco longe de agora

E nem posso me entristecer
Tampouco jogar tudo fora
Como se eu não fosse você
Neste espelho que nos devora.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Do meu novo lugar

Eu quero me alegrar
De forma fácil
Sem precisar alegar
Qualquer cansaço

Não tenho que alugar
Todo o meu tempo
No escopo de me alagar
Em comoventes exemplos

Eu vou me ligar
A fim de matar a saudade
Do meu novo lugar
Sem ermas viagens.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Mais do que um merda

Eu não queria
Que todos fossem
Doidos como eu seria
Enquanto falso

Eu tenho sonhos
Guardo moedas
E me proponho
A ser mais do que um merda

Seriamente, luto
Contra o conforto
De ser um puto
Eu me confronto!

terça-feira, 24 de novembro de 2009

A luz no fim de tudo

A rotina é tão opressora
E absorvente
Que me faz lembrar às pessoas
Que somos gente

A vida não se reduz
Ao palco do trabalho
Ninguém pode ver a luz
No fim de tudo em atrasos

O cotidiano é tão sinistro
E estranho
Que, quando vejo os meus amigos,
Abraço, beijo e danço.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Já e por enquanto

Estou satisfeito
Sigo contrariado
Com o saco cheio
Ando afável

Tapa nas costas
Esqueço meu nome
Pra facada próxima
Cerco meu onde

Eu sonho tanto
Que nada cometo
Já e por enquanto
É o começo.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Donativos de claridade


Do grampo telefônico
Ao do cabelo camaleônico

Sei que sou humanitário
Humano e etário
Mais chique é ser perdulário
Ou mesquinho, árido

Do campo de concentração
Ao zelo da descontração

Eu só aceito caridade
Em donativos de claridade
Mas isso vem com a idade
Ou feito tempestade.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Um som de sonho

Uma imagem invisível
Um cheiro de fulgor
Um sabor difícil
Para quem se afogou
Apesar do sal

Um roteiro indômito
Um toque de mar
Um som de sonho
Para quem saiu do ar
Devido ao comercial.

sábado, 31 de outubro de 2009

Tudo passa

Tudo passa
A sobra, o riso
A cova rasa
O vasto risco

Que afasto a tapas
Entre carnes de borracha e mocotós
Menos colombo do que imbasa
E passatempos e tombos sós

O que se passa
Para nas paredes
Da minha casa
Sozinha sede.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Agora há mais

Não quero me ludibriar
Com essas promessas
Como se não caísse jamais
Nas minhas conversas

Agora há mais números
Do que seres humanos
Agora há mais muros
Câmeras e novas morais cercando

A parada é viver a vida
Porém não como no Leblon
E respirar amizades coloridas
É luz solar em vez de neon.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Nos móveis do meu lar

Chorei ao ouvir Lennon
Um flashback
Para quando era mais ingênuo
E menos moleque

Quero voltar a viajar
Nas coisas simples
Nos móveis do meu lar
As lições não eram tão difíceis

Preciso pensar no asco
Autêntico pelo paraíso
Prático, higiênico, plástico
E fácil para o sorriso

Resolvendo os problemas
Do meu mundo e mundanos
Vou para a paz do cinema
Se é que não me engano.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Muito mais do que eu pra mim

Vendo livros
Lendo filmes
Pra ver se me livro
Do que me deprime
Com desconhecidos
Muito mais do que eu pra mim

Visto músicas
Visito quadros
Pra pintar uma fuga
Pra qualquer lado
Mudo de figura
E ainda faço parte do gado.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Como se fosse tão fácil assim

Eu financio os meus suicídios
Dou de ombros
E empresto os ouvidos
Aos meus sonhos
Duvidosos e divididos
Entre o edifício e os escombros

Eu planejo os meus sequestros
Banco a farsa e o refém
Busco sempre o que detesto
Nos dejetos da infâmia e do desdém
Do entusiasmo ao tédio
Sou todos e ninguém

Eu apoio os meus boicotes
Mobilizo multidões contra mim
Agiotas em prol do meu calote
Como se fosse tão fácil assim
E discuto a minha relação com a morte
Tentando dissuadi-la do meu fim.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Vontades empanadas

Eu me divirto com nada
Com todo este fastio
Das vontades empanadas
Pelos conselhos frios
Das pessoas de cima

Eu exijo muito pouco
Perto da minha grandeza
De anódino e bucólico
Poeta da natureza
Das ideias, das rimas

Não ensaio o bastante
Para entrar na dança
Das coleiras e barbantes
Só assimilo a mudança
De estilos e do clima.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Tudo e até

Tudo é necessário,
Até o supérfluo
Carro caro
O caos do século

Tudo é descartável
Até o capital
São outros centavos
Eterno carnaval.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O sorriso, a seiva e o verniz

Achando que estava feliz
A realidade me invade e me dissolve
O sorriso, a seiva e o verniz

Rabisco o sol enquanto chove
Mesmo na primavera, está tudo gris
E esta ressaca não acaba nem com engov

Estava convicto de que tinha alegria
Até a infelicidade bater na minha porta
E tocar direto a campainha

Agora eu rezo para que não haja volta
Da melancolia que vicia
Preciso de vida, ainda que remota.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

De tanto

De tanto botar o dedo na tomada
Tomo o choque
Para ter a tomada
De consistência a reboque

De tanto brincar com o fogo
Suo na cama
Com medo de quem me afogo
Navego em terra plana

De tanto cutucar a onça
Com a cara dura
Crio coragem e vergonha
Para reconhecer a altura

De tanto voar com os morcegos
Não quero mais dormir virado
Como os voluntários cegos
Têm raízes até os desarvorados.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Andando adiante

Quando me espio
No espelho de espanto
Eu percebo o corpo esguio
Dos versos em reflexos do canto

Que gostaria de ter escrito
Mas eu ainda tenho ânimo
Andando adiante, eu me resigno
E me ressignifico em câmbios

Sei que é preciso roer o osso
E ter cuidado com os dentes
E ter dinheiro e chave no bolso
E ter, ter, ter, a não ser que tente.

O ponto de equilíbrio

Sem estardalhaço
Só em compromisso
Com o facundo silêncio
Reúno os estilhaços
Parece difícil
Fazer o que penso
Pensar no que faço
Pra dizer o que sinto
Apago o incêndio
De um sinistro abraço
Na saída do labirinto
Acendo um incenso
Para quem tem buscado
O ponto de equilíbrio
Agradeça pelo bom senso
Tudo ficará mais fácil
Com a coleta do lixo
E de outros excrementos.

domingo, 20 de setembro de 2009

Esperando pelo sol

Esperando pelo sol
Passeio no abismo da noite
Atrás de qualquer farol
Fonte, porto ou ponte

Amanhã já é primavera
Enquanto caio feito outono
O sol está à minha espera
E eu sei quando estiver pronto.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O tempo líquido

O que me acontecer
De bom ou de ruim
Fatalmente vai ser
O melhor pra mim

Um dia qualquer
Um dia desses
Em que estiver
Com o ínfimo interesse

Penso no verso seguinte
E me lembro de quando o relógio andava lento
O tempo líquido tem mais acinte
Do que o meu sólido empenho.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Bainhas puídas

Eu me amarro em bainhas puídas
Não fica segura a barra
Que a rua fabrica e agarra

Cada dia é um capítulo
Um botão a menos na camisa rasgada
Um par de antigas e largas calças

De mira na maré, no mural
E não na alcunha do que soe muro
Meramente moro no calcanhar do futuro

A vida é uma piada
Indizível e ouvem-se absurdos
Indivisível e resolve-se tudo.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Da capital esperança e do meu estado de sítio

Domando a ânsia
Sob o comando
Da capital esperança
E do meu estado de sítio
Descrito em memorandos
Que eventualmente consinto

No embalo da dança
Promissora das cadeiras
Das estrelas estranhas
Embora hospitaleiras

Às aventuras tantas
Bato o pé e a mão na madeira
Três vezes por semana
Pra ficar mais na beira

Eu só vou ser quando
Vier a derradeira instância
Quebrando qualquer quebranto
Preciso me desmembrar disto
Que apanhei depois da infância
Já me adverti e me diverti, eu me dispo.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Teatro sórdido

Não posso ser tão assíduo
Dos infernos com fachada
Charmosa que nem paraíso
Não uso mais a madrugada
De cúmplice dos meus suicídios

Se respirar e parar
Para escrever
Tudo quanto pensar
Eu não saberei
Ser fiel ao radar

Mas não tem nada não
Eu entendo o teatro sórdido
E atuo sem dar satisfação
Dos versos como periódicos
Vale a sua interpretação.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Só com muito jazz

Não fiz nenhum acordo
Tampouco brinde
Para me sentir regularmente morto
Não é coisa com que se brinque

A vida está por um fio
Apesar do wireless
No fito de não ficar fixo
Só com muito jazz

É tempo de escolher os frutos
Já chegou setembro
Junto com o futuro
Pelo que me lembro.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Batatas quentes

Se o céu é do condor
A carniça é do urubu
Vou só de condicionador
Já que não rola xampu

Declamo, digo, leio as palavras
Tão rapidamente
Que não consigo saboreá-las
Parecem batatas quentes

Sei que tenho que dar uma pausa
Nesta urgência
Nesta náusea
É que eu falo como quem pensa.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Qualquer totem, algum arcano ou Suicídio de Vargas, nascimento de Leminski

Preciso inventar qualquer totem
Pra costurar às minhas vestes
Em vez de cultuar pestes
Que já são tantas

Sobretudo quando, onde estou, tem
Algo que me fortaleça
Com toda a gentileza
Do coringa na manga

Eu colo meu ouvido à parede
Para desvendar algum arcano
Parando de vender meus planos
A preço de banana

E calo minha boca com sede
Mais de palavras sábias
Do que de água áspera
Sem secar a gana.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

À ilustre angústia

Por mais que pareça aleive
Eu tenho que aliviar a dose
Antes que a desordem leve
Tudo de forma precoce

Não posso chamar a vida de injusta
Não devo abraçar as almas abjetas
Não quero voltar à ilustre angústia
O que careço é usar a janela já aberta

E bater as asas
Que não são infelizes nem de cerúmen
Para sair de casa
Apenas com antenas e raízes imunes.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Para virar a página e passar uma borracha

Eu não gosto quando as coisas
Deixam de ser elásticas
Cuecas e meias, por exemplo
É melhor acertar as contas
Antes que se afie mais a faca
Ceifando todo o meu tempo

Entre a minha cachola e a atmosfera
Vão embora as nuvens densas de borrasca
E eu quero que você, salubre escape,
Entre no meu coração de poeta
Para virar a página e passar uma borracha
Agradeço por ter escrito as falhas a lápis.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Trato raso

No ranger dos olhos
Em busca de brilho
No tanger dos poros
Por um suor fino

Quatro fases tem a lua
E só uma noite em mim jaz
Feito notícia nua
E aviso ao meu pai

No constranger do ente
Atrás de um acaso
No frigir dos dentes
Adotando um trato raso

De volta o mesmo sol
E uma nova manhã
Tudo poderia estar pior
E consolo a minha mãe.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Manicômio de comuns

Eu falo de mim
Como se fosse outrem
Eu olho pro fim
Como se esperasse por ontem
Eu vivo assim
Como se não houvesse onde

Eu me desloco
Sou mais do que só um
E sigo sendo o mesmo louco
Neste manicômio de comuns
Que perderam o foco
Entre a panorâmica e o zoom.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Válvula de skype

Por qualquer válvula de skype
Eu completo a chamada
Graças à vibe
Mesmo sem a carta
Eu invento o naipe
E continuo na jogada
Que me cabe
E me descarta

A vida é um gás
Lacrimogêneo
Olhar só para trás
É tão ingênuo
Olhar só não me faz
Ser nenhum gênio
Olhar um sol a mais
Não causa incêndio.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Creme do veneno ou do licor

É preciso fazer outro suco
Após lavar o liquidificador
Pra beber o câmbio em curso
Creme do veneno ou do licor

Aprendo com o desapego
Desprendo-me do passado
Todavia eu não denego
Nenhum dia do calendário

Já se derramou todo o pranto
E o que se lacrimejar
Agora e por enquanto
Será mais pra salgar o mar

Assim eu não me afogo de novo
E desenho meus desígnios
Dentro do tempo regulamentar do jogo
Entre dogmas e signos.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

No exercício da telepatia

Ironicamente, o pior
É que está tudo bem
Mais calmo e melhor
Só não sei para quem

Muita coisa mudou
O futuro, a mobília
O discurso, o odor
O mundo, a família

Talvez nada tenha permanecido
Igual ao que era
Agora eu me visto
De uma tácita espera

A lágrima nunca é insossa
No exercício da telepatia, peço
Que a derrota seja provisória
Ou até uma vitória sobre o ego.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

A humildade relativa no ar

Através dos óculos escuros
Eu vejo o tempo sombrio
Mesmo assim eu procuro
O sol com paz, amor e brio

A humildade relativa no ar
Arrotada feito ufania
Não vai mais me fazer doar
Fé que no fundo é preguiça

Ainda bem que eu tenho o faro
Da suspeita que não me deixa
Igual aos ignaros
Nos disparos bárbaros das suas certezas.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Apesar de alguns estragos

Acredito ter me arrancado
De qualquer rancor
Agora me levo com meus passos
A poça do dilúvio já passou

Logrando com meu sorriso largo
A alegria não me largou
Apesar de alguns estragos
A fumaça não me tragou

Preciso só de uma pitada de afago
O fascínio se afogou
No oceano obscuro de bagaços
Que Netuno embargou

Pleno, eu me sinto magro
Sem doce, prevalece o amargor
Tudo bem, peço outro prato
Embora nova, a lua prateou

sexta-feira, 17 de julho de 2009

A uma outra dimensão

Estou cansado
De perder o meu tempo
Remando contra o vento
Remoendo sentimentos
Que me deixam moído
E um pouco mais doido
Com esse alvoroço todo
Que não teria me alcançado
Se eu fosse leve
Se eu não levasse a sério
Os pensamentos em febre
E as dúvidas sem nenhum critério.

Estou tranquilo
Não adianta inserir a raiva
Na minha dieta diária
A indigestão não passa
E me causa um péssimo humor
O que pode gerar tumor
E temor de um novo amor
Que já teria me conduzido
A uma outra dimensão
Invisível daqui de baixo
Se eu fizesse a menção
Da voz a que me agacho.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

O desvario e o fato

Não quero ficar tão estupefato
A ponto de parecer estúpido
Para as coisas estupendas

Minha maior virtude
E o meu pior vício
Falam a língua da ingenuidade

Entre o desvario e o fato
Não falta muito
Pra acontecer o que se inventa

Por mais que eu estude
Estou ainda no início
De saber toda a verdade.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Cigarro aceso

Não me interessa a tosse
Como condição à galhofa
Nem me apetece o doce
De medalha pela gororoba

Não me desperta a cobiça
De galgar degraus lisos
Decolando com asas postiças
Pra depois colar a cara no piso

Não tenho vontade nenhuma
De querer me dar bem a qualquer custo
Decorando a fala da calúnia
Descolando aplausos injustos

Mas me apraz o cigarro aceso
Recentemente feito atraso solene
Para o bombástico beijo
De lábios, cheiros e ventres.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

No mesmo barco, na mesma nave

Não há culpados
Tampouco vítimas
Todos somos responsáveis
Pelo presente, pela vida

Venha pro meu lado
Espalhar a alegria
Apesar dos entraves
A arte clarifica

Eloquentemente calado
Pratico a telepatia
Não há outra chave
Não há outra saída

Parece que é premeditado
Para que tudo se coincida
No mesmo barco, na mesma nave
Ontem, hoje e depois cabem num só dia.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Pelo amor cada vez mais perto

Quero correr riscos
Só pela felicidade
Generosa e genuína
Rejeito outros tipos
Cheiram a falsidade
Refinada na latrina

Eu me proponho
A perpassar perigo
Apenas pelo êxito
Dos meus sonhos
Comigo e consigo
Dentro do contexto

Qualquer deleite a mais é supérfluo
É enfeite de aniversário
Logo será passado
Pelo amor cada vez mais perto
Que nos deixa despertos
Espertos e menos solitários

Vamos sair do óbvio errado
Para entrarmos no mistério
Dos nossos cérebros
E corações renovados
Contra os charmosos diabos
E anjos deletérios.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Estrada franca

Sigo na estrada franca
E sincera
Sem cera
Evitando deslizes

Estou com a carta branca
À espera
À mesa
Táticas felizes

Eu me sinto mais leve
Com tanta densidão
Até o meu coração
Sem coação agradece

Para quem crê na internet
Como a solução
Da dissolução da solidão
Sugiro sempre tête-à-tête

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Entre sonhos e monstros

Acato meus limites
Vou um pouco mais
Para que eu não imite
Quem ficou para trás

Respeito meu descanso
E me deito tarde
Enquanto não alcanço
Minha outra margem

Considero meus medos
Entre sonhos e monstros
Cruzando os dedos
Para o grande encontro.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Talvez mais sujeito

Sou a pessoa de sempre
Inesperada
Sou uma pessoa contente
O que não me agrada

Silente, ciente
Descontrolado
Sou alguém pra frente
Que perde o horário

Sou o mesmo sujeito
Vago na yoga
Talvez mais sujeito
Ao vácuo agora.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Com amor e sem medo

Embora soe velho
O meu discurso
Gasto no espelho
Ou mudo o percurso
Ou eu me perco
No rio turvo
De jacarés, de janeiro
E dos meses últimos

Vou embora mais velho
Para um novo mundo
Sonhado desde cedo
Mas não o achava útil
Por vaidade e desespero
Que não me deixavam um duto
Para marchar com amor e sem medo
Pelo caminho do meio de tudo.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Se é que não me engano

O desleixo é a alma do divórcio
Se é que não me engano
Há tempos que não me esforço
A deixar os outros contentes
E vitoriosos com meus danos

Fazendo qualquer negócio
Pra não acoimar tanto
O que de fato não posso
Carcomer com os dentes
Que já foram mais brancos.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Descalço

Eu não tenho a obrigação
De ser arrumado
E animado
Como na televisão

Embora me coajam
Pelo teatro da vida
Sob uma simulação mais adquirida
Do que inata

Eu não preciso abraçar
O caminho fácil
E falso
Vou descalço ao meu lugar.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Céus, chãos e portas

Existe um sol lá fora
Esperando a noite
Ficar totalmente morta
Como se possível fosse
Acontecer bem agora

A manhã que nunca houve
Abrirá céus, chãos e portas
Ainda com a chave longe
Eu vou dar uma volta
Andando na linha do horizonte.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

De novo e diferente

Visita por acaso
Via fotografias
Olhar mareado
E sem náusea

De súbito ao pretérito
A tudo o que havia
De além do eterno
Dentro e perto de casa

Separação de algumas fotos
Entre a surpresa e a nostalgia
O que é mais peremptório
Do que as coisas que passam?

Tanto mergulho inconveniente
Seca a vida antes que me vista
De novo e diferente
Dos tempos das submersões rasas.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Saída sadia

A poesia não é feita
Apenas de letras
A poesia não é só afeita
Às palavras perfeitas

À noite, o que não convém, esfria
Enquanto não vem o dia
Eu sonho com a poesia
Como se fosse uma saída sadia

A poesia é muito mais
Do que um pedido de paz
A poesia tem, aliás,
Uma cor além do lilás.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Presente via idade média

Eu não cultivo invídia
Planto, colho e como ideia
Ainda mais quando a vida
Sob ovação em mim estreia

Eu tenho altura mediana
Mas não sou medíocre
Nem quando a apatia soberana
Tenta me cingir na trama do filme

Eu não conto vantagens
Apenas as moedas
De troco da passagem
Para o presente via idade média.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Ao que está por aí

Cada sujeito
Deve se divertir
Ainda que a tristeza
Diga que não tem jeito

Parece lassidão
Mas o sol do porvir
Vai sacudir a poeira
Das teias da solidão

Toda pessoa
Precisa se vestir
De si mesma
E não só de roupa

Sem temer se expor
Ao que está por aí
Pra virar a mesa
Antes de virar bolor.

domingo, 3 de maio de 2009

Futuro fóssil

Olhar o fogo me acalma
Como a linha do mar
Para poder me olvidar
Menos a minha alma

Olhar o fogo me esquenta
Mas eu fico tranquilo
Domestico os meus grilos
Até os de cabelo na venta

Olhar o fogo me encanta
E eu nem perco o foco
Mesmo sendo tudo futuro fóssil
Uma nova Atlântida.

domingo, 26 de abril de 2009

Quase reciclado

Escravo do desejo
Sorrio latindo
Até quando perco
O medo do ridículo

Imerso no meu universo
De nuvens e dum sol que frita
Eu creio que esteja tão certo
Quanto as verdades científicas

Quem me vê com a caneta em punho
Com um ar de urgência
Pensa no teor do assunto
Sem desvendar, apenas tenta

Um dia ainda jogo fora
Todas as minhas angústias
Do tamanho da memória
Elas também são suas

À tarde eu gasto o tênis
Para poupar a passagem
Aparece tanta gente
Que arromba e não se abre

Nesta noite volto ao passado
Pra me lembrar que era outro
Agora eu estou quase reciclado
Da escória do vindouro.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

De outras fontes

Eu não tenho que ser folgazão
Em toda e qualquer ocasião
Eu não estou num comercial
De margarina ou de creme dental

Eu não preciso ser boa-praça
Se considero tudo sem graça
Eu não resido num canal
De televisão ou de moral

Quando eu mostro os caninos
Não quer dizer que eu esteja sorrindo
É pra roer a corrente, é pra correr do curral
Deixando de ser o meu pior rival

Não suporto contrair
A felicidade obrigatória
Fecho os olhos, foco,
Ando, defeco e ouço, não mais falo

Vem de outras fontes o elixir
Da vida, da minha história
Dividida em bloqueios, blocos
E providenciais intervalos.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Fugas, bússolas e raptos

Atravessando um lindo túnel
De bicicleta com guidão bambo
Eu me blindo de óculos escuros
E oxigênio, ambos baianos

Atravessando a parede
Com o ânimo do desapego
De si próprio, em descanso na rede
Controlo mais o meu ego

Atravessando máscaras
Graças à sutileza do radar
Sei que a lapidação é cara
Com tanta poluição para dar

Atravessando trevas
Sob o amparo do acaso
Eu me adapto nesta selva
De fugas, bússolas e raptos.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

O meu humor

O meu humor péssimo
Não me permite pegar no ar
Nem me faz empréstimo
Só me ajuda a piorar

O meu humor intragável
Não me traz nenhuma saída
Sedosa, saudosa ou saudável
Contra os gestos suicidas

O meu humor cítrico
Não me cura da gripe
Muito menos o meu cinismo
Consegue me deixar livre

Do meu humor à primeira vista
Do meu amor às cegas
Mais para hipermetropia
Do que pura entrega.

Autocrítica

Quando acho
Que me iço
Eu fico mais baixo
Do que o abismo

Nem mesmo supondo
Que estou contente
Eu me assombro
Como sempre

Quanto mais penso
Que me expando
Eu me apequeno
E desço o pano.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Dentes em ideias

Extraindo as vísceras
Eu me sinto meio vazio
Toda alegria é mísera
Quando se compra o sorriso
Na promoção ou na rifa
É maremoto dentro do navio

Extirpando as artérias
Parece que tudo está ótimo
Exponho meus dentes em ideias
Antes que eu tenha um troço
Por temer a reação da plateia
E a revelação da foto

Os dias se dissolvem
As tardes não mais se arrastam
Aliadas às madrugadas móveis
As noites se tornam aladas
Que nem a de onze de junho de setenta e nove
Em caso de cansaço, pé na estrada.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Só pelo medo da perda

Mudei de perfume
Menos a cor do frasco
Mudei de costume
Mas não como falo

Mudei o trajeto
Exceto o combustível
Mudei o ingresso
E removi o vírus

Mudei de residência
E quem mora aqui
Mudei de vestimenta
Que nem as marcas do tempo, souvenir

Mudei, não por brincadeira,
Realizei o backup
Só pelo medo da perda
Que não mais cabe.

Enésima feira

O corpo é patrimônio
É porco o seu abandono
É o insólito modo de ser dono
De algo além do sonho

Eu não sou tricolor
Tão somente por causa do meu avô
Tento dosar os derrames de amor
Mormente para recordar de que sou

Os óculos escuros represam
O choro de uma íntima tristeza
Enquanto o ônibus me arremessa
Para mais uma enésima feira.

terça-feira, 17 de março de 2009

Para todas as horas

Escrevendo certo
Por teclas tortas
Sonho desperto
Para todas as horas

O clima é tenso
E a rima, pobre
Pra desanuviar penso
Por esporte

A lua míngua
O céu reflete
As janelas xingam
E jogam confete

Além do corpo
O ânimo tem cansaço
E saudade do pouco
Êxito e de alguns fracassos.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Aos sinais

Não vou falar nada
O tempo é o meu porta-voz
É o dono da palavra
Que desata todos os nós

Não vai ficar só na garganta
O que está difícil de descer
Ainda que não me garanta
Por enquanto que vá acontecer

Vou andar quieto
E atento aos sinais
Dos trânsitos, sutis e diretos,
Chega de tantos charcos emocionais

O que eu articular
Não será escutado
Exceto pelo olhar
De quem estiver ao meu lado.

sexta-feira, 6 de março de 2009

As águas

Levo-me pela força das águas
Da moça em lágrimas
Mas nunca pela forca da máquina
Tampouco pela muita ou pouca mágoa
Que num dia se lava e passa

Como esta poesia de escape
Nostálgica do cinema de rua, do lápis
E dos problemas de matemática fáceis
Até dos axiomas de Descartes
Tem uma cômoda saudade

Eu troco o meu reino
Por uma máquina do tempo
Mas, pelo que me lembro,
Tudo entrará nos eixos
As águas perpassam os seixos

As passadas não movem moinhos
Porém, quando chove, traçam os caminhos
Com seus atalhos e desvios
E limpam os meus olhos, que ficam vazios
E propícios a uma visão sem desvarios.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Lampejos de neblina

Eu sou a minha cópia
Inválida e autêntica
Com firma desconhecida

Eu consigo me imitar
Sem que soe falso
Sem que me mate
Alegando trote

Eu sou o clone da minha obra
Para além da transparência
Lampejos de neblina

Só poderei caminhar
Entre o primeiro passo
E o derradeiro arremate
Depois depende da sorte.

Sob a sombra do poste fino

Escutando uma canção
Do outro século
Sacode meu coração
E atrela o meu cérebro

Parece uma nostalgia
De quando era mais moço
E toda a minha perspectiva
Poderia caber no bolso

Aguardo o coletivo
E me resguardo do sol
Sob a sombra do poste fino
Pensando que há coisa pior.

terça-feira, 3 de março de 2009

Sabores e saberes

Devo ser sempre grato
Aos meus problemas
Que pesam uma pena
Perto de outros pratos

A qualquer entrave
Que me é posto
Não posso virar o rosto
Fico sem ver a chave

Não mais confundo
Cuidado com covardia
O estorvo nosso de cada dia
É uma prova deste mundo

Costuma ser azedo
Mas há diversos sabores
E saberes para os dissabores
Dissolverem-se bem como o medo.

A renúncia é a pronúncia da urgência perante a denúncia do advento do nunca

Através do teclado duro
Vomito o que entala o pescoço
Compreendo, contudo não aturo
Rigidez o tempo todo
Acaba me deixando murcho
Sem charme nem chance no jogo
Até parece que o ar é seguro
Trata-se de sufoco
E eu espero por qualquer futuro
Fora deste destempero oco
Para me sentir lúcido
Como nunca fui ou de novo.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

A dizer não, a dizer sim

Preciso passar a dizer não
Aos beijos dos vampiros
Aos desejos de plantão
E ao meu indefeso umbigo

Para que o tempo me depure
Sabendo que eu posso
Fazer mais do que uma suposição
Das nuvens ou sob o jardim

Tenho que começar a dizer sim
Às vozes com menos volume
De longe e às vezes dentro de mim
Antes dos conselhos inúteis

Porque são ouvidos
No meio dos destroços
Quando se pensa na solução
Apenas às barbas do fim.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Os dias

Os dias ocorrem
Como a ocasião
E não digiro bem
Aquelas que se vão

Os dias escorrem
Como água
E não acordo bem
Na dimensão imediata

Os dias correm
Como um instante
E bebo um café bem
Forte pra dar um levante.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Inglesa contramão

No sentido da rua
Em inglesa contramão
De esguelha encontro a sua
Intenção em tensão
Com a presente conjuntura
E a incipiente civilização
Varre a velha mente suja
Valendo-se da cardíaca razão

Quando eu me lembro
Que uso alarmes e lápis
Nos sonhos e desenhos
Para que algo se apague
Subitamente invento
Palavras que não jazem
Algumas vão com o vento
Outras ficam mudas e fáceis.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Para destilar no carnaval

Eu não sou máquina
Mas sigo o calendário
De forma mecânica e canina

É totalmente artesanal
Quando fabrico entusiasmo
Para destilar no carnaval

Eu não vivo de encomenda
Até o exato momento
Em que isso for a minha renda

Sou um robô autônomo
Tentando ser do pensamento
Menos escravo do que dono.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Interiores em obra

Pela alforria da folia
Interiores em obra
Canalizando euforia
O tempo um dia cobra

Choro com propagandas
E também com novelas
Como a lágrima, a vida anda
Para quem a si se revela

O prazer é ótimo
E o gozo, extraordinário
Mas não estão no meu prognóstico
Ordinariamente diário

Eu não estou mais de férias
Nem quando me deito
Na cova pra domar as feras
Pra dormir e acordar cedo.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Demissão de mim

Saindo da dimensão
Do delírio, de outro domínio
Em nome da demissão
De mim por estar dormindo
Na hora da devastação
Justo num domingo
Escuto da resignação
Que são coisas do caminho.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Comigo não estou sozinho

Não vou catar na urina
Para voltar a perder
A famosa velha linha
Sob a falsa impressão de poder

Não vou foliar nas minas
Terrestres e gerais
Esta dança estranha é minha,
Fácil e de ninguém mais

Não vou festejar na latrina
Nem me submergir no rio
De janeiro por um fevereiro com trinta
Comigo não estou sozinho.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Da maternidade ao asilo

O espírito é matéria sutil
E a matéria, espírito com mais peso
O meu corpo é meu abrigo
Templo, reino, tempo e feudo
Cujo perímetro supera o que imagino
Na querela entre a cautela e o medo
Da maternidade ao asilo
Quebram-se os berços
E decretam-se anistias de qualquer exílio
Enquanto resgato a infância, envelheço
Sendo meu avô, pai, irmão e filho
Feito de carne, vento, osso e gesso
Mesmo tendo um só domicílio
Eu moro em todos os endereços.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Para quem pensa

Para quem pensa
Que sabe o que se passa
Nos meus miolos
A pessoa acha apenas
E não encontra palavra
Alguma dos meus olhos.

O silêncio é uma sentença
Maior do que a alma
Cujo suor sai por poros
Incógnitos à ciência
Quero delibar esta água
E me derramar no córrego.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Arcabouço

Na tentativa de me ver
Através de um espelho
Sem reflexo nenhum
Noto que eu não sou você
Muito menos modelo
Com um sorriso de costume

Na experiência de expor
O que tenho no arcabouço
Além do imo e do clima
Percebo os limites do meu interior
A mudança começa aos poucos
E ignora quando termina

Respirando com fleuma
Consciência e profundidade
Evaporam-se os problemas
E se traz e se traga o que vale

Conspirando em prol
Do que só é benéfico
Transpira o próprio sol
Aonde se vai sem teleférico.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Porque é domingo

Admito que se aumente
O amigo parapeito
Desde que não me saia da mente
A visão apaixonante do precipício

Obedeço até a quem não merece
A quem não mereço
Mas que a discussão não comece
Hoje porque é domingo

É um dia para ficar leve
A ponto de voar a passeio
Via imaginação também serve
Não carece de santo nem de cinto.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Dose de sol

Tento colocar em ordem
A minha cabeça
Que os grilos mordem
Apesar da iminência
Do bom senso ou da sorte
Em tinta ainda fresca
Pinta uma mão sobre
Os ombros da consciência
E outra pra pegar uma dose
De sol antes que a noite beba
Caindo num sadio porre
Sem submissão nem soberba.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

A fauna do deserto

Ando descoberto
A pé na rua
Sob uma fina chuva
A fauna do deserto

No país idolatrado
Neste verão senegalês
O oásis da vez
É o ar-condicionado

Com o dinheiro do táxi
Eu volto de ônibus
Ganho um desconto
De quase grátis.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

De guerra e de trégua

Vamos logo sem paredes
Em redes sem intrigas
Apenas em rodas de entregas
E de tragos gratos

Chega de estragos
E de regras desse jogo
De guerra e de trégua
No grito do joio no trigo

Pra dar um tempo à têmpora
Pro radar ficar de molho
Do molho ao dente por tridente
E do olho por ferrolho.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Lá pelas tantas

Cada gesto
É um escândalo
Mesmo discreto
Causa espanto

Os olhos vítreos
Buscam nitidez
Mordiscam os vizinhos
Que ocultam a nudez

E no final das contas
Lá pelas tantas
Horas tontas
Atentas são as plantas.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Muita hora nesta calma

O isolamento se divide
Entre livre e triste
Parece tão longe e simples
O equilíbrio de antanho

As gargalhadas se calam
Muita hora nesta calma
Para desfazer a mala
E lavar a alma no banho

Não é que não tenha
A viagem valido a pena
Apenas saíram de cena
As vendas para dormir sem tardança

Quase nem sempre é por pouco
A insanidade é uma questão de foco
De passagem, de didática e de gosto
Pela estática em plena dança.