terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Alguma juventude

Flutuando pela Bahia
A qualquer hora
Da noite ou do dia
O futuro é agora

Pode soar clichê
O que é de fato
Pra mim e pra você
Sorrindo no retrato

Alguma juventude
Ouso respirar
Em atitude, em saúde
Que me traz o ar

Sem me afogar em lágrima
Sem chorar chuva
Sem beber água
Porque nunca ajuda.

Sob paradisíaco tédio

Sob paradisíaco tédio
Brinco de domar a solidão
Evitando seu assédio
Levitando sem depressão
Levantando cem prédios

Eu ando apenas comigo
Pelas ruas e topo
Nos bares com meu amigo
Imaginário e bebo os dois copos
Ao menos, é o que consigo.

Ouvindo Rolling Stones
Com uma simpatia pelo diabo
Tento enganar a fome
Não me fazendo tanto de escravo
Quanto era anteontem.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

À mesa vinte

Da paranóia
À certeza
O boato bóia
Bebe cerveja

Quem diria
Também pudera
Em qualquer dia
De qualquer era

Uma mera pulga
Sairia da caixa
Sumiria com as rusgas
E mudaria de faixa

À mesa vinte
No século vinte e um
Não mais se finge
A origem de cada um

Emerso do oceano
Sinônimo de placenta
Todo ser humano
É filho por excelência.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Incontroverso

O que era difícil
Ficou para trás
Uma espécie de vício
De tempos ancestrais

O que parecia impossível
Virou uma saudade
Um curioso nível
De cumplicidade

O que soava complexo
Tornou-se tão simples
A ponto de ser incontroverso
Como se sempre existisse

O que aparentava ser completo
Fechou o chão, a roda
O caixão, o cemitério
E a funerária toda.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Gritante mesmo quando calado

Dispensando o supérfluo
Não compro mais briga
Eu me trago e me levo a sério
Ao pensar no que me abriga

Enxugando-me da chuva
Através do vento e da luz solar
A visão não fica mais turva
O ego começa a se desolar

Pelo benefício da suspeita
Deixo de carregar cruzes
Crases e crises alheias
Águias não são avestruzes

Adotando o tempo como presente
Gritante mesmo quando calado
O domínio está na minha frente
Dentro de mim e ao meu lado.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Momento oportuno

Voltar ao ninho
Não denota
Recuar-me no caminho
Nem laquear portas

É o momento oportuno
De apagar os incêndios
De me apegar a Saturno
E de pagar os dispêndios

Retornar ao lar
Não significa
Rebobinar
A minha fita

É o instante certo
De aparar as arestas
De reparar os dejetos
E de preparar a festa.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Póstumo presente

Quero ir pra frente
Sem nenhum pé atrás
Ao póstumo presente
Que depressa se faz

Sei que devo ser paciente
Feito um bom rapaz
Um dia o tempo me consente
Uma ninharia de paz

Apesar do mundo doente
E da crendice ineficaz
Tal caos não será pra sempre
Já está em transição, aliás.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

À janela mágica

Depois do colorido
Nascem as cinzas
Parto dolorido
Farto das tintas
Típicas do delírio

Antes da procissão
À janela mágica
Ergo-me com a detonação
De fogos pela data
De Nossa Senhora da Conceição.

Gargalo fino

Dentro do túnel
O rádio não pega
Perante o copo sujo
Recorro à caneca

Eu me desvio
De qualquer norma
Não deixo de ser normal
Por causa disso

Fora do ar
Não tem sintonia
Para acompanhar
O que antes unia

Eu me redefino
Despojado de fórmula
Ou de despejo formal
O gargalo está mais fino.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Em sordidez pura

Especula-se pelos cantos, à boca miúda,
Que houve avanços
Afinal tudo sempre muda
Entre a cura e o cancro
A partir de leis tão espúrias
Que me entorno ao santo
Em sordidez pura
Há rumores de que o arbítrio é livre
Tudo de graça tem o seu preço
Ouço as maravilhas do Stevie
Para ver se me esqueço
Dos problemas que nunca tive
Por um tempo que não se conta nos dedos
Nem para os vizinhos felizes.