sexta-feira, 27 de junho de 2008

Hidrelétrica

O desejo estranho
Que me doma
É do mesmo tamanho
Da minha redoma

Quero estar ao redor
Ser cansa demais
Para raiar e se pôr
Entre nuvens colossais

Trago o meu choro
E me cuspo ao alto
Enquanto me devoro
Não sei se atinjo o alvo

Devo ir junto
E sair da quarentena
Se eu não pergunto
A dúvida aumenta

Não perco mais tempo
Com as horas críticas
Contando e contendo
A vida nunca é ridícula

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Volátil

Eu observo de praxe
Se sugere mais novidade
Do que mensagem

Volátil que sou, descuido
Dos meus calçados sujos
Até lavá-los no dilúvio

Meu corpo não se deita
Todo de primeira
Enquanto chora a torneira

Meu coração me agita
Tanto que nem cogita
O tamanho do rolo da fita.

Off

Off-fliperama
Off-filipeta
Off-felipe massa de autorama
Off-flipoeta

Em árdua marcha
Até que respire, pire & pife
De graça na praça
Do apreço ao ar livre.

Na proesia de Val

Qualquer conversa
Supera o trivial
Sobre a mesa
Copos e algum sal
Pra rebater a cerva
Pra debater qual
Quer papo em conserva
Na proesia de Val.

terça-feira, 24 de junho de 2008

São Cosme e Damião, Roberto e Erasmo em pleno São João

Embora eu poste
Em pleno São João
No dia de São Cosme
E Damião
Há doces que se cospem
De antemão

Eu corria muito atrás
Quando era menino
Gostava de ler o Atlas
Decorando nosso hino

Agora ouço Roberto e Erasmo
E admito não pouco pasmo
Que todos estão surdos
E a gentileza soa um absurdo.

Ossos, regras e coisas afins

Mexo os tamborins
Dos meus dedos ansiosos
Pra arrepiar a pele
Pra requebrar os ossos
Regras e coisas afins
Deixo pro fim de quarta
Quando a fantasia diz até breve
E se veste de gravata.

Sobre os cegos voluntários

Como um terceiro olho
Sobre os cegos voluntários
Ligou-me logo
Atendi ao chamado
Todos no mesmo barco
Demorei um bocado
Mas entendi o recado
Não é receita de bolo.

Não me dizia nada, mas ele falava

O olhar do menino
Não me dizia nada
Mas ele falava
Com seu sotaque
Em tom de ataque
Que queria uma calça.

Para qualquer parecer

O corpo é perecível
Nutrir a alma é preciso
Por mais que me desloque
Para qualquer parecer
Vai haver sempre um toque
Subjetivo no que disser.

É fácil ser medíocre

É fácil ser medíocre
Saber o fim do filme
O que será de mim
Parece tão simples
Que fica difícil
A fim de que se refine
O que no início
Por capricho não se define.

De longe desperto dormindo

À noite tudo
Fica mais solar
Quando quero muito
Freqüentar só lá

Antes de a hecatombe assolar
E de soar catacumba vosso lar

E se as profecias fossem refeitas
Virando um feriado no domingo
E escafandros para borboletas?
De longe desperto dormindo

Depois de o cataclismo
Estiver disposto a ser meu amigo.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Do balde ao rio

Um dia se descobre
A baldia contenção
Da cobiça nobre
Sob movediça tensão
Do balde ao rio

Boto a cara
E o corpo na janela
O tempo está firme
Para todos os fatos
Em pleno solstício

Talvez não queira
Apelar ao blefe
Ao pular na fronteira
Entre a órbita leve
E o glamour do abismo

Bato as asas,
À porta e a tecla
Por uma ponta no filme
Sei que não é fácil
Portanto eu me arrisco.

terça-feira, 17 de junho de 2008

A seja lá o que for

Não sou ator
Nem aspirante
A seja lá o que for
Que a sorte me chame

Não sou um perdedor
Nem invicto no tatame
Pra sair de onde estou
Eu ando em transe

Não sou mediador
Muito menos militante
Da minha própria dor
Apupada no palanque

Não sou curador
Nem marchand
De obras sem valor
Estética estanque

Não sei quem botou
Água no champanhe
Pra quem se sabotou
Falta outra chance

Nunca fui professor
Mas um estudante
Que se confessou
Inapto no exame

Não me acho desertor
Tampouco infame
Conheço quem eu sou
Por mais que me estranhe.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Da era de Aquário

Uma alegria
De água fresca
E sombria

Entorna certeza
Errática e sóbria
E as cartas na mesa

Não sei se as leio
Ou se as jogo
Seriamente alheio

Ou se apago o fogo
Ou se me incendeio
Cedo logo

Aos ditames
Do tempo sábio
Bem antes

De ficar inábil
E distante
Da era de Aquário.

domingo, 8 de junho de 2008

O sol mágico

Além da alcova
Existe o sol mágico
Qualquer luz nova
Alivia o náufrago

No caminho externo
O que parecia
Impreterível e eterno
Já perecia

Pintam tantos pactos aflitos
Até o pára-raio vulcanizar
O diabo e outros detritos
E o árido se derreter em mar.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Só junto

Não estou mais indeciso
Entre o aferro
E a estreita fresta

Não mais tremulo
Entre o fantasma
E o espasmo do cadáver

Não é nenhum paraíso
Muito menos inferno
Nem motivo para festa

Quero jazer só junto
Ao que me entusiasma
A usar novas chaves.