segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Delícias e deslizes

Quem não disse
Que todos têm
Delícias e deslizes
Desejo e desdém?

Dispenso estar sujeito
À mudança brusca
De humor e de jeito
A culpa não é minha nem sua...

Quero viver mais pra mim
Poder respirar de novo
O ar que pedi e perdi

Existo, logo me movo
Cada um sabe só de si
E não do outro.

domingo, 25 de novembro de 2007

Intrínseco

Eu queria ter, na moral,
Uma máquina do tempo
Mais do que a bola de cristal

Não é nada disso
Eu nem me arrependo
De ter vivido e bebido

Tudo o que não lembro
Além do que está na alma intrínseco
Antes de qualquer momento.

Eu é que não vou

A cara ficará cheia
Feito a lua
Se não ouviu, leia
As letras miúdas
Os olhares de esguelha
As frases sem pronúncia

Se não captou
Como o poste
Eu é que não vou
Pedir que aposte
Na onda retrô
Por mais que se goste.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Espantosamente óbvio

Não tem nada a ver com medo
É que saboreio
O abraço frio
Nas noites sem brio
E nos dias infames
Sobretudo quando abro os olhos
Não é que eu reclame
É espantosamente óbvio
Não quero pensar direto
Em rimas ricas
Em palavras bonitas
Para atenuar o que sinto
Que é tão concreto
Quanto o meu espírito.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Logo

Enquanto espero
Ajo
Acho
Que não é desespero
Chegar logo
Num lampejo
Antes do relógio
Se é o que quero

Enquanto ajo
Espero
Espeto
O tempo ágil
Não é onça
Nem vara curta
Parece ânsia
Mas me educa.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Em construção

Eu não sei sobre o que escrever
Enquanto penso num verso
Que possa comover
Como num passe, escrevo.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Tudo se aglutina

Sei que me absorvo
Na cada vez mais
Frenética rotina

Mas não estou morto
São muitos rituais
Para as minhas retinas

O tempo todo
E nas horas surreais
Tudo se aglutina

Entre o piloto
Automático e quem faz
O que antes não tinha.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Mas é como se estivesse

Meu olhar parece assustado
É que é um bocado aberto
Ainda não acabei o quadro
Nem da metade está perto

Mas é como se estivesse
E nem me intimido com a necessidade
Intuição e interesse
Para minha integridade

Entre o que foi e as sobras
Desconsidero que janto
As dores sóbrias
Só por enquanto

Rio sozinho
Ao arrotar que sou capaz
De saber do caminho:
São futuros demais.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Batendo braço com o caos

Enquanto não abraço o cais
Fico em pedaços, à deriva
Batendo braço com o caos

Enquanto estiver festiva
A compreensão dos sinais
Bato papo com os convivas

Enquanto passam mais
Violentos os dias
Vocifero vento nas naus

Enquanto no ar soar vida
Os naufrágios não serão maus
Com terra à vista.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Com certeza

Aparo as arestas
Paro de enxugar
Gelo com a testa
Degelo o olhar

Com certeza
Há muitas
Correntezas
Sós e chuvas.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

A partir

Ninguém me proíbe
Tampouco me coage
Sou louco e livre
Suporto a minha coragem

Não perco mais cacife
Muito menos o controle
Sou pleno e simples
A partir de hoje.